Após crescer 13,4% no primeiro trimestre, tirar o Brasil da recessão e ficar praticamente estável no segundo (0,7%), o setor agropecuário recuou 3% no terceiro período do ano, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (1º). Os números levam em comparação o trimestre anterior, e mostram crescimento da indústria (0,8%) e de serviços (0,6%).
Especialistas dizem que a queda do agro já era esperada devido ao período de entressafra. “No setor agrícola isso sempre vai acontecer, pois é uma época de comercialização. Isso não significa que uma ou outra cultura recuou. Esse PIB brasileiro do setor agropecuário poderia ter sido maior se não fosse essa variação de preço negativa em alguns produtos, como o milho”, afirma Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presidente da Abramilho - Associação Brasileira dos Produtores de Milho.
Apesar do recuo, o ex-ministro destaca a alta nas exportações. Um exemplo disso é o Porto de Paranaguá, que já bateu o recorde anual de exportação de soja, com mais de 9,5 milhões de toneladas do grão exportadas de janeiro a setembro - 12% superior ao antigo recorde anual, de 8,5 milhões de toneladas em 2015.
Economista e reitor da Universidade Positivo, o professor José Pio Martins complementa a explicação de Paolinelli: “O agro pode ser dividido em produção no campo e depois na parte operacional, na transformação na indústria, no setor cooperativista. Março, abril e maio são épocas de colheita e exportação, mas como o Brasil não tem grande capacidade de armazenagem, o terceiro e o quarto trimestre acabam sendo piores para o agronegócio”.
PIB acumulado e atraso no plantio: 2017
Ainda que o trimestre tenha apresentado baixa comparada ao período imediatamente anterior, no acumulado em 12 meses, o agronegócio já cresceu 11,6¨%. Mas os especialistas comentam que é preciso ficar atento a um problema recente: o atraso no plantio devido à seca, principalmente nos maiores estados produtores, no Centro Sul do Brasil.
“Podemos ter reflexos mais para frente, com a soja plantada mais tarde e a redução na área de cultivo do milho”, comenta o ex-ministro Alysson Paolinelli. O problema deve chegar, inclusive, à safra de inverno, do milho safrinha, devido à colheita posterior da safra de verão, automaticamente adiando o segundo plantio do ano.
Para Pio Martins, o atraso já afetou a economia, sendo um dos motivos da queda do PIB trimestral. “Tivemos um problema de estiagem, o que provoca movimento de queda na venda de sementes, por exemplo”, afirma Pio Martins, que destaca que esse atraso possa inclusive ter provocado impacto na queda do PIB do terceiro trimestre.
A seca que também atingiu outros países como o Paraguai também afeta o PIB, segundo o professor: “O Brasil é um grande fornecedor de sementes e outros insumos, como componentes para máquinas e químicos. Isso mostra que o problema abrange o agronegócio como um todo”.
Apesar das boas expectativas para o fechamento do PIB da agropecuária neste ano, tanto Paolinelli quanto Pio Martins quanto destacam que é preciso atenção ao próximo ano. “Não podemos perder os mercados que estamos ganhando. Nossa expectativa é que o preço [do milho] irá reagir a tempo e o agricultor não pode perder essa janela”, destaca o ex-ministro. Já o reitor da UP lembra ainda que, como a agricultura é sensível a preços e clima, e como neste ano aconteceu a maior safra da história do Brasil, a probabilidade de que a próxima safra seja melhor do que a deste ano é pequena.
Agropecuária é grande fator por PIB não ter crescido tanto ante 2º tri, diz IBGE
Estadão Conteúdo
A perda de ritmo no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro na passagem do segundo para o terceiro trimestre é explicada por efeitos sazonais da agropecuária, ressaltou nesta sexta-feira, 1º de dezembro, Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A perda de fôlego da agricultura brasileira no segundo semestre é normal e esperada, pois as principais safras nacionais, como soja e milho, são colhidas no início do ano. “O grande boom da agropecuária foi no primeiro semestre, mais até no primeiro trimestre”, afirmou Rebeca.
Além disso, safras importantes do fim do ano, como a cana, não estão bem. “A gente não tem mais a safra da soja e entrou a safra da cana, que está com expectativa de queda na produção”, afirmou Rebeca.
A pesquisadora ressaltou que, para 2017 como um todo, a agropecuária continua como o grande destaque da economia, na esteira de uma supersafra que se recupera da quebra verificada em 2016. “Claro que, no acumulado do ano, a agropecuária puxa a atividade”, disse Rebeca.
Quando se olha para a alta de 0,6% do PIB no acumulado dos três primeiros trimestres do ano, ante igual período de 2016, “fica clara a contribuição da agropecuária para o ano”, afirmou Rebeca.
Conforme os dados divulgados mais cedo pelo IBGE, pela ótica da oferta, a agropecuária foi o único componente com variação positiva, de 14,5%, puxando as demais atividades. Indústria encolheu 0,9% e os serviços, 0,2%, na comparação com os três primeiros trimestres de 2016. “No acumulado do ano, o PIB só está positivo por causa da agropecuária”, disse Rebeca.
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