Em uma das curvas da PR-151, próximo ao município de Palmeira, nos Campos Gerais, uma pequena propriedade de 14 hectares guarda uma história de persistência e conquistas. Se aos 18 anos o sonho da maioria dos jovens é ter o primeiro carro, Elcio Rochinski foi além e comprou o próprio trator. Mas isso não o deixou satisfeito. Agora, cinco anos mais velho, ele olha pela janela e vislumbra outro triunfo: a casa nova, que começa a ser construída bem em frente.
Não faltam a Rochinski argumentos para sair do campo. A perda precoce do pai, o exemplo de amigos que foram fazer faculdade fora ou simplesmente a possibilidade de utilizar a internet – inacessível na propriedade até pouco tempo atrás. Nada o convenceu. Ele até cogitou estudar em Ponta Grossa, a 50 quilômetros dali, mas acabou cursando Educação Física à distância e deve se formar ainda neste ano. “Se um dia eu precisar ir embora, o que eu espero que não aconteça, a faculdade vai me dar outra possibilidade de renda”, planeja.
A inspiração para ficar no campo vem de cursos ligados à sua atividade. O primeiro deles foi o Consórcio Social da Juventude Rural, que é realizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul). As aulas incentivam “uma reflexão sobre a agricultura e buscam aperfeiçoar a gestão das propriedades”, descreve Diego Kohwald, secretário geral da Fetraf-Sul.
A metodologia de ensino segue um sistema diferente das escolas tradicionais. Por meio da pedagogia da alternância, as aulas seguem um calendário próprio, que permite ao aluno continuar na lavoura ao mesmo tempo em que pratica o que aprendeu.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) são os principais adeptos desse sistema no agronegócio, e registram ganhos crescentes de participantes. Desde 2003 o número de alunos mais que dobrou (veja no gráfico).
“O processo de educação faz um trabalho muito forte na questão de valores, para que o jovem do campo vislumbre que ele pode viver no mesmo nível de quem está no meio urbano”, aponta Eduardo Gomes de Oliveira, gerente técnico do Senar.
No caso de Rochinski, as lições aprendidas foram fundamentais para que ele assumisse o comando da propriedade, há dois anos. O fumo segue como a principal cultura, com 4,3 toneladas colhidas na última safra, mas o feijão também ganhou espaço. A receita obtida com a produção de 2,5 toneladas do legume gerou recursos para a construção de um paiol. Além disso, ele agora planta milho, que é destinado à alimentação dos animais.
Em uma das aulas, sobre crédito, veio a ideia de comprar o trator e investir na casa nova. Ele se aproximou do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade e agora tenta mobilizar outros jovens da região. “Quero mostrar que vale a pena ficar”, destaca.