Entre os principais problemas dos produtores de soja do MaToPiBa estão a falta de estradas e ferrovias e os gargalos nos portos. A única safra do ano perde valor com os problemas do escoamento. A exemplo da região Centro-Oeste e de parte do Sudeste, o Nordeste agrícola também deposita suas esperanças de reverter esse quadro nas obras das ferrovias em construção e ampliação.
A Transnordestina, iniciada há mais de um século e considerada a obra inacabada mais antiga do Brasil, forma um Y que liga Recife (PE) a Fortaleza (CE) e tem uma ponta no Piauí. Para o MaToPiBa, que concentra as lavouras de soja e milho, é necessário ligar essa ponta à Ferrovia Norte-Sul, que também está em obras e vai ligar Goiás (Centro-Oeste) ao Porto Itaquí, no Maranhão (Norte), com cerca de 2,1 mil quilômetros de trilhos.
Por enquanto, esse trecho entre a Transnordestina e a Norte-Sul depende de vias abertas e mantidas pelos próprios agricultores. É o caso de uma estrada que liga Baixa Grande do Ribeiro (PI) a Balsas (MA), atravessando o Rio Paranaíba, na divisa entre os dois estados. A produção passa o rio, também conhecido como Velho Monge, de balsa. Para manter a via, os agricultores instituíram uma espécie de pedágio.
Hoje, pelas dificuldades no transporte dos grãos até os principais portos, os exportadores pagam até R$ 2 a menos por saca de soja na comparação com as cotações bancadas pelas indústrias nordestinas. Os produtores preferem vender para o mercado interno, mas não há demanda suficiente.
As compras são simplesmente encerradas pelas indústrias quando seus depósitos ficam lotados. Ao produtor, resta armazenar ou exportar. Quem não tem armazém, estende uma lona no chão, joga a produção e depois cobre. Mas os bags improvisados servem por seis meses, até a volta das chuvas, e o produtor se obriga a vender a soja a preços inferiores. As ferrovias poderiam colocar o Nodeste e o Centro-Norte em vantagem na comparação com as demais regiões produtoras do Brasil.
"Os produtores enfrentam o drama da produção sem infraestrutura calados. Os poucos que falam não são ouvidos. A questão é que hoje, mesmo colhendo bem, não se tem lucro que garanta uma boa perspectiva ao setor, pela alta contínua dos custos", afirma Manoel Henrique Pereira Filho, de Anapurus (MA). A importância do desenvolvimento da agricultura na região é também social, observa. "Estamos produzindo soja na região mais pobre do Maranhão, que é o estado mais pobre do Brasil", pontua.
Mas os agricultores que conseguem colocar sua produção no Nordeste, por exemplo, onde cresce a demanda para ração, cadeia em que o grão é transformado em carne, obtêm um preço melhor. "São casos isolados, mas acima, inclusive, do valor pago no Paraná, que tem o Porto de Paranaguá", diz Wilson Marcolin, produtor no Piauí. Em março do ano passado, quando a soja paranense atingiu R$ 48 a saca, teve produtor da região que vendeu por R$ 52 para os granjeiros do Nordeste.
Na avaliação de Karl Milla, de Baixa Grando do Ribeiro, quando a infraestrutura de estradas, energia e comunicação chegar de fato à região, será um diferencial competitivo ainda maior. "Não basta estar perto dos pontos de consumo e exportação. É preciso ter informação e acesso facilitado aos canais de escoamento dos grãos."
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