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Cooperativas e agroindústrias diluíram perdas, diz secretário

O Paraná colheu 7 milhões de toneladas de grãos a menos do que o previsto em 2009 – um terço da produção total de milho e soja –, mas nem por isso baixou a cabeça. As cooperativas conseguiram repetir o faturamento de R$ 25 bilhões alcançado em 2008 e mantiveram investimento de R$ 1 bilhão. Inaugurações de agroindústrias e a troca de tratores e máquinas também marcaram o ano. Para o secretário da Agri­cul­tura do Paraná, Valter Bianchini, a agroindústria diluiu as perdas da agricultura. Ele acredita que a renda do setor em 2009 retornou aos patamares de 2007 e voltará a crescer no próximo anos. Leia os principais trechos da entrevista:O Paraná perdeu 7 milhões de toneladas de grãos. Foi um ano difícil para todas as atividades rurais?Para a agricultura, principalmente a de grãos, foi um ano difícil. Seja pela seca que afetou a safra de verão ou pela chuva na safra de inverno. Contando a queda na produção e o impacto do real valorizado, a renda com a produção agrícola caiu perto de 20%. Temos ainda os problemas provocados pelo clima na produção de café e trigo. A cana foi uma exceção, por causa da valorização do açúcar. Na pecuária de corte e leite, se não foi bom, não foi ruim. O leite teve preço bom durante um bom período, mas agora está em queda.

A agricultura familiar se saiu melhor que a comercial?

A agricultura familiar hoje tem um bom programa de seguro, que cobre boa parte das dívidas assumidas em financiamentos. Aquela agricultura familiar diversificada atravessou o ano com mais equilíbrio. Foi assim onde há integração entre lavoura e pecuária e nos cinturões de hortifrutigranjeiros.

Como o setor absorveu a perda de renda?

Quando se avalia a cadeia produtiva como um todo, você minimiza esse processo. As cooperativas que têm apostado na agroindustrialização e na diversificação da produção continuaram o ano com bons níveis de investimento. Você sente por parte do cooperativismo e de parte das agroindústrias um ano de continuidade. Foram inaugurados moinho, maltaria, frigoríficos. O Porto de Paranaguá também fecha o ano com bons resultados. As perdas climáticas se diluíram nas cadeias produtivas.

O produtor se descapitalizou, mas não acumulou dívidas?

Exatamente. E você sente no campo uma aposta num movimento de melhora para 2010. O real valorizado é uma preocupação. Pode­remos ter problemas com isso na agricultura. A redução dos preços dos produtos importados não com­­pensa a queda nas cotações dos grãos. Os produtores vêm de um processo de renegociação de dí­­vidas, mas estão tendo oferta nor­­mal de crédito para a safra 2009/2010. No Paraná, já entregamos 4.160 tratores através do Tra­­tor Solidário e, na retomada do pro­­grama, em 2010, mais 3 mil serão en­­tregues. Há um clima de in­­ves­­timento, de aposta na produção.

Essa demanda por tratores é contínua?

Há um espaço grande. Eu diria que esse mercado não se esgota. São 374 mil propriedades no Paraná, e pelo menos um terço tem renda para comprar ou renovar o parque de máquinas. Tendo oferta de crédito, vai longe. Aquele modelo europeu de família pequena altamente mecanizada chegou mais cedo do que a gente esperava para uma realidade como a do Paraná.

Os problemas no trigo mudaram a meta de ampliação contínua na produção?

Em 2009, o Brasil teve que dar um grande incentivo à exportação do trigo de qualidade inferior. Ainda existe um excedente no mercado. O trigo de melhor qualidade flui normalmente – a oferta não é tão grande assim. No trigo e no feijão, nós temos um problema. Precisamos desenvolver variedades mais resistentes a problemas climáticos, que produzam mais e reduzam custos. O trigo brasileiro, em dólar, é o mais caro do mundo. Mas continuamos com a meta de garantir uma oferta interna de pelo menos 7 milhões de toneladas, que fica na meta de 70% do consumo nacional.

Há R$ 6 milhões para seguro do trigo no Paraná no próximo ano?

Nós deixamos um fundo de R$ 6 milhões na agência de fomento aqui do Paraná. Mas esses recursos podem ser usados em outras culturas, como o feijão. No último ano, gastamos R$ 2,5 milhões com o seguro do trigo, porque algumas seguradoras não estavam prontas às exigências legais.

Houve esforço para reforçar o orçamento estadual da Agricultura?

O orçamento da Agricultura mantém os esforços no custeio da máquina, dos órgãos de pesquisa, dos setores que trabalham com sanidade. Estão previstos R$ 337,3 milhões para a Secretaria da Agricultura (Seab) e as empresas vinculadas (Ceasa, Claspar, Codapar, Emater, Iapar e o Centro Paranaense de Referência em Agroecologia, CPRA). Para a administração direta (Seab), são R$ 108,3 milhões. Os investimentos, nas duas últimas décadas, têm contado com grande apoio do Banco Mundial. Nossa ideia é buscar um novo acordo de empréstimo. O governador, a Assembleia Legislativa e Tribunal de Contas já autorizaram. Em janeiro, isso passa por última análise no Banco Mundial. Depois vai para aprovação do Ministério do Planejamento e se consolida com uma última aprovação no Senado. Nós acreditamos que até março a gente volta a contar com projeto de 50 milhões de dólares do Banco Mundial.

Como devem ser aplicados esses recursos?

Os programas têm um componente forte de combate à pobreza e de infraestrutura para processo de agroindustrialização. Nesse novo que vem agora vamos atuar com prioridade no que a gente chama de Centro Expandido, esses 128 municípios do estado com menores índices de desenvolvimento humano (IDH). Vamos atuar desde as políticas sociais para as camadas mais pobres – educação, saneamento, emissão de documentos pessoais – até programas de meio ambiente, manejo de solo, reflorestamento e principalmente reforçando cadeias produtivas que possam potencializar renda a essas famílias. Temos ampla possibilidade de crescer na fruticultura e na pecuária leiteira.

O governo estadual está conduzindo a produção rural a uma mudança de perfil?

O governo é um dos incentivadores. Quando a gente oferece pesquisa, treinamento, lança algumas políticas fiscais, a gente tem o papel indutor, mas não é o único papel. Além disso, os investimentos privados também apontam novos potenciais, como é o caso da avicultura. Nos interessa agregar valor inclusive à produção de soja e milho que vem de Mato Grosso do Sul e do Paraguai. No leite, já temos 100 mil produtores e há espaço para grandes indústrias, que possam ajudar na exportação. A cana, de uma forma ordenada, entra na recuperação de pastagens, de áreas degradadas do Arenito.

Essa diversificação interfere na produção de grãos?

Aumentar a produção de grãos não vai. Eu diria que 30 a 32 milhões de toneladas é praticamente o nosso limite, com a produtividade que conhecemos. Em redução eu também não acredito. Porque a fruticultura ocupa pequenas áreas. Em vitivinicultura, estamos falando de áreas de um hectare, dois hectares. Afetar os 5,5 milhões de hectares de grãos é difícil. Podemos ganhar uma safra por ano onde ainda não se usa a terra no inverno.

Como vai ficar o valor bruto da produção de 2009?

O VBP da agropecuária pode voltar aos parâmetros de 2007 (R$ 32 bilhões). E, se a gente saltou para R$ 42 bilhões em 2008, podemos atingir de novo esse patamar em 2010. Estamos fechando um ano com o comércio interno em padrões de crescimento. A geração de emprego recobrou seu ritmo. Há uma conjuntura mundial mais favorável. Sem contar que o clima tem ajudado as lavouras de grãos neste verão, temos condições de voltar a uma boa produção.

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