O avanço das fronteiras agrícolas nas últimas décadas forçou um processo de transformação na maneira de atuar das cooperativas agrícolas. De associações de produtores, algumas se transformaram em grandes organizações. A atuação das empresas rompeu os limites do Paraná. O sistema cooperativista do estado, que é referência nacional ao fincar de vez sua bandeira em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, está também no Paraguai.
O movimento de expansão de divisas não é novo. Ainda na década de 80, conforme alguns produtores avançavam em busca de novas terras para o plantio de grãos, as cooperativas seguiam os rastros dando suporte, tanto no fornecimento de insumos e sementes como na recepção e armazenagem da produção.
“É difícil estabelecer o mapa de negócios com o mapa do estado. Esse avanço é natural. As expansões acontecem para resolver interesses dos próprios associados”, relata José Roberto Ricken, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Vizinhança
Após abrir unidades no Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, a cooperativa Lar, que nasceu em Medianeira, no Oeste do estado, optou pela instalação de uma base no Paraguai, em 1996. A motivação veio da necessidade de aumento da produção de soja para abastecer a indústria da empresa. A proximidade geográfica entre a cidade sede e o município de Mbaracayú, local da primeira unidade, facilitou o negócio.
Após 17 anos, Lar está totalmente consolidada na vizinhança. No mês passado, a cooperativa inaugurou sua 8° base de recepção e processamento de grãos in natura, em Naranjal, a primeira na região Sul do país. Já são nove unidades em sete municípios de três estados – uma é a sede central. A previsão de faturamento do outro lado da fronteira é de R$ 400 milhões em 2013.
“Os negócios no Paraguai hoje representam o que a cooperativa era há 12 anos no Brasil”, destaca Ovídio Zanquet, gerente geral da unidade.
A C.Vale, de Palotina (Oeste), também seguiu para o país vizinho. A empresa abriu unidades para fornecer insumos e receber os grãos dos associados que haviam ido para lá. Hoje são três plantas no Paraguai, em Katuetê, La Paloma e Corpus Christi, entre as 70 que a cooperativa possui no total.
O presença das cooperativas traz segurança aos produtores brasileiros que migraram para o Paraguai. Quem não conta com empresas na região de atuação enfrenta desafios, tanto culturais como na forma de negócio. O produtor brasileiro João Emanoel de Almeida precisou estruturar sozinho a propriedade de 1,4 mil hectares, no município de Los Cedrales. Hoje, ele conta com a ajuda do filho Robson, formado em agronomia, que cuida da parte técnica da fazenda de soja e milho.
“Se tivesse uma cooperativa na região seria um bom negócio. Aqui a coisa é diferente, funciona na base do olho por olho, dente por dente”, explica.