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Cotações ignoram a escassez

Uberlândia (MG) - Exceções diante do quadro de oferta crescente, há regiões em que milho e soja são produtos escassos nesta época do ano. Nem por isso os preços sobem. Os olhos estão voltados para a colheita e o produtor não deixa de ser mero tomador de preços nem nesses períodos de baixa oferta. Fatores como o clima e as cotações futuras exercem influência maior e mais sólida que a realidade do mercado.

Diretor de compras da Cargill em Eddyville (IA), Estados Unidos, Ray Jenkins precisa de até 600 caminhões de miho por dia e seu departamento tem de se desdobrar para garantir matéria-prima na entressafra, uma vez que a capacidade de estocagem é suficiente só para seis dias de trabalho. Mesmo assim, ele mostra-se tranquilo em relação às cotações dos próximos meses, quando a nova safra norte-americana chega ao mercado. "Acredito que o mercado não terá grande oscilação." Para ele, as variações de preços podem ser de centavos.

No Sudeste do Brasil, há indústrias que chegam a parar as máquinas temporariamente pela falta de grãos nessa época do ano. É o caso da cooperativa Carol, com sede em Orlândia (SP), que fabrica óleo de soja mas não encontra matéria-prima suficiente. "A primeira soja da próxima safra deve receber prêmio. Mas as cotações devem seguir estáveis, entre R$ 30 e 35 para a saca de soja e perto de R$ 15 para o milho", afirma Fernandio Nonino, agrônomo que atua como trader na empresa.

Como o pagamento de prêmio para quem tem disponibilidade de grãos na entressafra é eventual, os produtores relutam em investir em silos. "Não vale a pena. Quem estoca ainda corre o risco de ter de pagar o transporte até os grandes compradores", relata o agricultor Júlio César Pereira, que cultiva 3,4 mil hectares com seus filhos na região de Uberlândia (MG). "Os grandes compradores fazem gracinha com os preços em períodos de escassez, mas isso faz pouca diferença no final contas."

Em vez de investir em armazenagem, Pereira prefere ampliar a área de produção. Produtor desde 1980, ele começou com 500 hectares e hoje possui 2,4 mil hectares. "Esse foi o investimento de uma geração inteira", pontua. Para garantir margem satisfatória, é preciso ampliar a produção, observa. "Quem tem pouca área não paga as contas."

As indústrias do Sudeste têm a opção de comprar grãos pelos preços de mercado em regiões onde a oferta é maior, como no estado do Mato Grosso. Mesmo no caso do milho, em que as exportações são exceções, o mercado amortece as oscilações entre oferta e demanda. O que vale são as cotações e as expectativas de produção. Proprietários de pequenas áreas tornam-se fornecedores com pouco poder de barganha na região de Uberlândia. "Nas últimas décadas, as propriedades foram fracionadas e, para quem tem áreas menores, não vale a pena produzir soja. A saída é plantar milho mesmo", explica o técnico Carlos Augusto Franco.

Quando há mais oferta que demanda, no entanto, os preços tendem a cair automaticamente, relatam os produtores. O quadro mostra que o fato de os agricultores e cooperativas estarem adiando as vendas nesta safra – as vendas antecipadas estão abaixo da média no Paraná e na região de São Paulo e Minas – tende a pressionar os preços para baixo nos próximos meses. A maioria dos produtores vende a maior parte da produção durante ou logo após a colheita.

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