Ao lado do comércio, do serviço e da indústria, a economia de Curitiba a cidade mais urbana do Paraná explora o agronegócio. Além de centenas de agricultores familiares, a capital concentra um número significativo de médios e grandes produtores rurais. A Federação da Agricultura do Paraná (Faep) estima que mais de mil agropecuaristas vivem na cidade. Eles representam 2,5% dos 40 mil médios e grandes produtores paranaenses e realizam parte de seus negócios sem deixar a capital.
A maioria deles planta no interior ou em outros estados e vive na capital paranaense, tomando crédito e gerenciando investimentos de casa ou do escritório. Com mil hectares destinados à agricultura e 2 mil cabeças de gado de corte em Ponta Grossa e Jaguariaíva (Campos Gerais), o produtor Gustavo Ribas conta que nasceu, foi criado e mantém residência fixa em Curitiba. A agropecuária é a principal, mas não a única de suas atividades.
Morador de um bairro nobre da capital, Ribas busca equilíbrio financeiro em outros ramos, entre eles o gráfico e imobiliário. "A atividade rural é muito instável, pois está a céu aberto. Se pegar um ano de clima desfavorável, perdemos tudo. Por outro lado, quando dá lucro é preciso diversificar os investimentos aqui e lá (Ponta Grossa)", cita.
Embora tenha metade da renda sustentada pelo campo e sinta prazer em permanecer na atividade rural, Ribas diz que prefere viver na cidade, onde fica a maior parte da semana. "Vou mais para lá quando tem plantio ou colheita. O risco de perdas é muito menor na cidade do que no campo."
A concentração de agropecuaristas em Curitiba sustenta uma estrutura especial de crédito. O Banco do Brasil (BB), principal canal de distribuição de recursos do crédito rural, personalizou uma de suas agências para atender exclusivamente o setor.
"Com uma agência agro em Curitiba, a chance de os clientes procurarem recursos aqui é bem maior. Até porque os produtores ficam mais tempo aqui do que na cidade onde plantam", analisa Pedro Loyola, economista da Faep.
Os médios e grandes produtores financiam R$ 24 milhões na agência agro do Banco do Brasil, instalada no Batel. Os familiares acessam apenas R$ 87 mil. Dados da instituição indicam que ocorre na cidade o repasse de 0,4% dos recursos do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) destinados à produção comercial e familiar no estado.
"A carteira de clientes da agência agro tem 100 produtores, mas a nossa meta é dobrar esse número neste ano. É um objetivo audacioso, mas acredito que cumpriremos. Por isso temos investido na especialização dos funcionários", afirma Fernado Pelisser, superintendente regional do banco.
O dinheiro movimentado por produtores rurais em Curitiba não se limita, contudo, a assinatura de contratos para custeio e/ou investimentos no campo. Quando a safra rende bons frutos na lavoura, parte dos lucros acaba sendo investida em outros setores.
Uma fazenda cultivada por 275 pequenos produtoresApesar das ameaças climáticas e da expansão do setor imobiliário, Curitiba ainda conta com um grupo de pequenos agricultores que mora e planta na capital. Levantamento da Secretaria Municipal de Abastecimento revela que, dos 156,6 mil pequenos estabelecimentos rurais do estado, 275 estão na cidade. Cada chácara tem 5 hectares agricultáveis, em média. A soma dos terrenos equivale a uma fazenda considerada de grande porte no Paraná, com 1,6 mil hectares.
São famílias centenárias, sustentadas, em sua maior parte, pelo cultivo de hortaliças e/ou frutas, como é o caso dos Tessari. Donos de cerca de 10 hectares de terra no bairro Lamenha Pequena, eles representam bem o grupo de agricultores curitibanos. Alfredo, o patriarca, com 69 anos de idade e oito netos, conta que faz parte da segunda geração da família. "Nasci, cresci e sempre vivi dessas terras. Hoje, elas sustentam cinco famílias", diz o descendente de italianos ao lado de Marcos, um dos filhos que o ajudam nos trabalhos do campo.
Ao limpar e selecionar as poucas verduras que sobreviveram a uma série de geadas neste ano, Alfredo conta que já está acostumado com os efeitos do inverno rigoroso da cidade e que a construção de condomínios residenciais tem sido a atual ameaça às lavouras da região. "Estamos sendo cercados. Esses dias um senhor veio aqui e, quando percebemos que iria fazer uma proposta de compra da nossa área, logo dissemos que não estava venda", relata Marcos.
Embora estejam acostumados com o inverno rigoroso de Curitiba, neste ano os Tessari contabilizam estragos significativos. Cerca de 80% do que estava plantado foram perdidos, calcula Alfredo. "Tentamos preservar alguns talhões da horta, com cobertura plástica. Mesmo assim, não sei se as verduras vão aguentar", avalia.
O prejuízo não desanima a família, que, diante da falta de espaço para aumentar a horta, começa a expandir os negócios para o município vizinho, Campo Magro, onde comprou outros 20 hectares. "Não sei se meus filhos vão querer continuar na atividade. Por enquanto são muito novos. Mas eu espero morrer aqui", diz Marcos.
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