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De pai para filho

Imbituva - Entre uma música sertaneja e outra, a adolescente Cláudia Regina dos Santos ouviu no rádio um anúncio que teria passado despercebido se ela não estivesse inquieta com a vida na zona rural. Filha de produtores de fumo de Imbituva (Campos Gerais), acompanhou a rotina de trabalho duro da família desde criança e, aos 18 anos, com o peito apertado, tinha concluído que seria melhor sair de casa, deixar os pais e os dois irmãos na localidade de Valinhos, para estudar biologia onde quer que pudesse se sustentar.

No entanto, aproveitou um dia em que o pai estava de saída para a cidade e pediu para ele conferir do que se tratava um curso para jovens rurais anunciado pelo locutor. Para surpreender a filha, Diogo inscreveu logo Cláudia na casa familiar rural, que forma agentes de desenvolvimento e cidadania. Isso foi há dois anos. Desde então, a melancolia e a indecisão dão lugar à empolgação na casa de Cláudia. Caçula entre os irmãos, ela é quem desenha os planos da família, que decidiu deixar o fumo para produzir verdura orgânica. "Tive que mostrar que eu sei o que estou fazendo, mas eles acabaram aceitando minhas ideias e agora até me ajudam."

Um movimento que envolve pelo menos 10 mil jovens como Cláudia sacode a previsão de que as propriedades rurais tendem a ser abandonadas ou ficar nas mãos de produtores idosos. Eles frequentam ou frequentaram alguma das 270 escolas familiares rurais (41 no Paraná). O sistema paralelo à rede pública se firmou nas últimas duas décadas adotando o método conhecido como pedagogia da alternância, em que o jovem passa uma semana na instituição e três em casa. Cursos que vão da alfabetização à formação de empreendedores combatem a migração do campo para a cidade.

A experiência vem da Eu­­ropa do início do século passado, quando o problema da migração preocupava países como França e Itália. Parte da constatação de que o ensino formal não dá conta de recolocar quem está insatisfeito com sua atividade no meio rural. Preparados para fazer uma leitura do mercado, os jovens brasileiros que saem das casas familiares rurais implantam novas atividades e tornam áreas de menos de 10 hectares viáveis. Em alguns casos, se transformam em exemplo de empreendedorismo para médios e grandes produtores.

No curso de empreendedorismo de uma semana por mês em Guamiranga (município vizinho a Imbituva), Cláudia estruturou suas idéias. Ela decidiu produzir verdura para vender na feira semanal realizada em Imbituva. Com a chegada da internet a Valinhos, sua irmã Luceli, 27 anos, planeja um serviço de entrega que vai aceitar pedidos feitos por correio eletrônico.

As galinhas, que invadiam a horta antes de as plantas crescerem, foram substituídas por coelhos, que consomem restos em gaiolas e também rendem carne. Os canteiros cultivados nos fundos de casa se transformaram em "laboratório" para produção de alface, cenoura, couve, morango. Agora que conhece os segredos de cada cultura e produz inclusive adubo, Cláudia quer reduzir ano a ano o plantio de 50 mil pés de fumo, a principal fonte de renda da família, e converter a área de 3,6 hectares à produção orgânica. O tabaco é considerada uma atividade penosa e de alto risco pela família, que te-me o aparecimento de doenças.

Preparação

O processo de transformação não ocorre do dia para a noite. Quatro anos depois de passar pelo curso de empreendedorismo, Gildo Ferrari, 28 anos, de Irati, acaba de plantar 800 pés de ameixa e pêssego. Dois terços dos 35 hectares cultivados por sua família são dedicados à soja, mas a área é pequena para garantir renda anual. O feijão e o fumo, alternativas tradicionais, têm garantido apenas a manutenção do negócio. "A primeira colheita vai ser em 2011. Vou implantar uma máquina de extrair polpa para agregar valor à produção", planeja. Seu projeto deve ser abrir a primeira agroindústria de Guamirim, localidade onde a agricultura ainda depende de tração animal.

Enquanto repensa sua atividade, Gildo ajuda outros jovens. Desde que se formou, ele atua como agente de desenvolvimento na região. Participa de reuniões e discussões em Guamiranga e pelo Brasil afora. A atividade lhe permitiu co­­nhe­­cer Goiás, Brasília, Ma­­ranhão e, na última semana, Pernambuco, onde discussões sobre trabalho e sustentabilidade no campo reuniram 850 jovens dos 27 estados brasileiros. "O jovem rural busca alguma alternativa para se agarrar. Inova para não ficar para trás", avalia.

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