A produtividade das próximas safras de grãos no Paraná pode estar comprometida. O estado enfrenta “sérios problemas” com a conservação do solo, segundo especialistas do agronegócio. O quadro desperta preocupação entre produtores, cooperativas e indústrias desde 2012, quando representantes dos produtores acionaram a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) em busca de apoio para uma reversão.
O problema ganha maior atenção em 2015, definido como Ano Internacional dos Solos pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) . As ações de recuperação e difusão de informações no Brasil envolvem o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Embrapa. Durante os próximos meses, uma série de eventos irá abordar aspectos técnicos da conservação.
De acordo com projeção da Seab, 30% dos cerca de 6 milhões de hectares cultivados no Paraná necessitam de intervenção imediata. A avaliação de quanto essa área em processo de degradação pode interferir na produtividade do estado, no entanto, é imprecisa. Segundo o assessor técnico da secretaria José Tarciso Fialho, o impacto no rendimento é inevitável.
“Já está impactando na produtividade do estado”, sentencia. “O solo é o maior patrimônio do produtor que não pode fechar os olhos para o problema”, aponta Fialho.
Para o engenheiro agrônomo e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR) Orley Jair Lopes, os agricultores estão pensando no hoje e esquecendo das próximas safras.
“A situação é bem crítica. Com a quantidade de nutrientes retirada hoje, não será possível ter a mesma renda daqui 10 anos”, afirma.
Um conjunto de práticas equivocadas estaria potencializando a erosão pelo estado. Apesar de o Paraná ser o berço brasileiro do Plantio Direto, que revolucionou o agronegócio nacional, o sistema, em muitos casos, não é realizado corretamente, fazendo com que o solo fique exposto às intempéries do clima.
O cultivo de três safras por temporada também estaria colaborando para a “exaustão” do solo. Há produtores eliminando curvas de nível e os populares murundus por entenderem que atrapalham os trabalhos das máquinas agrícolas. “Sem isso, não há nada que contenha a água da chuva, que leva ladeira abaixo nutrientes com a erosão”, aponta Fialho.
A situação mais preocupante está no Noroeste por conta do solo arenoso, bastante sensível a erosões hídricas e eólica. Regiões planas como a área central do estado também apresentam problemas.
“Não existe apenas uma técnica para fazer agricultura. É preciso buscar mecanismos adequados a cada tipo de propriedade”, diz Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Reversão
Em parceria com o setor privado, a Seab combate o problema por meio do programa Plante seu Futuro, lançado em 2013, ferramenta de conscientização dos produtores. A proposta é realizar ações permanentes de capacitação de boas práticas agrícolas. Hoje são 100 unidades de demonstração espalhadas pelo estado, com perspectivas de chegar a 250 até o final do ano.
“O bom manejo do solo ajuda a mitiga os problemas em épocas de seca, pois retém água e nutrientes”, diz Oromar João Bertol, agrônomo da Emater e coordenador do Grupo Gestor de Manejo Integrado de Solos e Água do Plante seu Futuro.
Em âmbito nacional, uma melhoria na conservação depende de programas como o Agricultura de Baixo Carbono (ABC). O Paraná se mobiliza para acessar maior volume de crédito neste ano, mas ainda sobram recursos, conforme o governo.
Combate à erosão exige mobilização dos produtores
Nos últimos 10 anos, o solo do Paraná, que já foi referência nacional, passou por transformações, conforme os especialistas. A responsabilidade sobre os fatores que promoveram essa degradação é atribuída aos agricultores e ao sistema produtivo.
Máquinas agrícolas maiores e mais pesadas são utilizadas nas lavouras. Com isso, para facilitar o trabalho de plantio e colheita, muitos produtores nivelaram rampas, que tinham sido construídas para controle de erosão hídrica em terrenos inclinados.
A expansão da soja também é apontada pelos especialistas como ponto chave nesse processo. As boas cotações da oleaginosa, próximas de R$ 60 por saca, colocam o grão como primeira opção da agricultura no estado. Em muitos casos, os produtores não realizam a rotação com o milho, o que estaria limitando a nutrição do solo. Onde não se pode plantar milho de inverno, o solo chega a ficar apenas em descanso, com coberturas finas. Ou seja, a oleaginosa acaba sendo semeada repetidas vezes na mesma área e o tratamento da terra limita-se à necessidade da cultura.
Para não perder a janela de plantio da temporada seguinte, muitos produtores realizam a colheita e a semeadura e solo muito úmido. Isso estaria favorecendo a compactação e cria aberturas que podem estimular a erosão.
Outro ponto assinalado pelos especialistas é que as mudanças climáticas no planeta têm aumentando a incidência de chuvas torrenciais. Em muitos casos, dependendo do tratamento (ou falta de) dado a terra, essa pluviosidade “carrega” embora nutrientes importantes para agricultura. O quadro, associado à emissão de gases, começa e termina no meio urbano. Segundo a Sanepar, há casos em que o próprio tratamento de água destinado ao consumo humano tem de ser interrompido por força da erosão em áreas agrícolas que cercam bacias de abastecimento.
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