Depois de quatro meses registrando chuvas excessivas, uma "descaracterização" do fenômeno El Niño pode atrapalhar a produção agrícola durante o verão. Mas, ao invés do excesso de chuvas que se vem constatando até agora, o risco está na estiagem. Meteorologistas concordam que haverá queda na precipitação a partir da segunda metade de novembro, mas divergem ao prever se existem chances reais de seca ou se o volume de água permanecerá nos índices normais de verão.
Na avaliação do meteorologista do instituto Somar Márcio Custódio, o modelo de clima previsto para este verão está indicando chuvas bem abaixo da média. De acordo com ele, o quadro é comparável ao verão de 2004/05, quando o Paraná sofreu bastante com a estiagem algumas regiões tiveram apenas 10% da precipitação normal no intervalo de dois meses.
"Os modelos de clima chegaram a apontar estiagem, mas até então descartávamos essa possibilidade por que o El Niño normalmente traz bom volume de chuvas. Mas o que estamos percebendo agora é uma descaracterização da formação clássica desse fenômeno, que pode influenciar diretamente na precipitação de toda a Região Sul", diz.
Essa descaracterização, segundo Custódio, foi detalhada em um estudo feito por um instituto sul-coreano e publicado recentemente pela revista científica "Nature". Segundo a pesquisa, o comportamento do El Niño no continente depende da localização das águas mais quentes no Oceano Pacífico quanto mais afastadas da costa, na região central, menos regulares serão as chuvas nas lavouras. "O agricultor deve torcer para que haja uma migração dessas águas mais quentes em direção à costa."
Já o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) Luiz Renato Lazinski concorda com a "diminuição da intensidade das chuvas", mas não em seca propriamente dita. "Não acredito em estiagem. A estimativa é que o ritmo de chuvas caia, mas se mantenha em um patamar normal, com precipitações dentro da média. Por enquanto, está longe de atrapalhar a agricultura pelo contrário, isso é bom para a safra do Paraná."
Lazinski também se recusa a admitir que o El Niño está mais fraco, principalmente porque as chuvas neste ano estão bem acima da média o volume de setembro ficou praticamente três vezes acima do normal, e outubro por enquanto registra o dobro.
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