A produtividade na fronteira agrícola nordestina vem aumentando com práticas conservacionistas desenvolvidas no Sul. A herança tecnológica é também um caso de família. Nonô Pereira, agricultor de Palmeira (Centro-Sul paranaense) reconhecido mundialmente como um dos precursores do plantio direto na palha (PDP), conta que o sistema se adapta perfeitamente à região nordestina. "Dá certo em Madagascar, na China e na Índia, e no Nordeste também." Seu filho, Manoel Henrique Pereira Filho, Maneco, que produz soja e presta serviços com máquinas há três safras em Anapurus, no Maranhão, relata que 60% das áreas da região estão adotando a tecnologia.

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Eles contam que ainda há uma certa resistência ao plantio direto, principalmente nos primeiros anos de produção. Os agricultores destocam as áreas e, no primeiro cultivo, plantam arroz, cultura mais indicada para essa fase. Na segunda safra, quando começa a produção de soja, as máquinas voltam a revirar a terra, numa tentativa de se quebrar o ciclo das ervas daninhas e descompactar o solo. Com o passar do tempo, no entanto, os arados acabam reduzindo a concentração de materiais orgânicos, essenciais para uma boa produtividade.

Na avaliação de Maneco, o plantio direto "é a solução" para os problemas do solo nordestino. A concentração de areia chega a 70%, com 15% de argila e 15% de silte, composição que retém pouco as chuvas, registradas praticamente só entre janeiro e maio. O silte faz com que a terra fique dura no período seco e acaba estimulando o uso de máquinas. No entanto, quando começa a chover, as áreas amolecem e os atoleiros são inevitáveis. A palhada torna-se essencial para amenizar essa compactação e preservar a umidade, e reduz a necessidade de uso de maquinário.

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"Nesta safra, muitos produtores que usam o sistema convencional tiveram que adiar o início do plantio, porque não havia umidade suficiente. Alguns se obrigaram inclusive a replantar nas áreas mais secas. Com o plantio direto, consegui semear no período mais indicado e espero uma produtividade acima da média", diz Maneco.

No primeiro ano de cultivo de soja, ele colheu 25 sacas por hectare, metade do alcançado no Paraná. No último ciclo, no entanto, os índices se igualaram, com 53 sacas por hectare, produtividade que pode ser inclusive ultrapassada na próxima colheita. Ele atribui a evolução principalmente ao acúmulo de matéria orgânica no solo.

Prestador de serviços com máquinas agrícolas, Maneco teria mais trabalho se o sistema convencional predominasse. No entanto, torce pelo plantio direto. "Posso atender áreas maiores com a mesma estrutura", pondera.

A economia de maquinário é uma das principais vantagens do sistema conservacionista, relata Nonô Pereira. Em sua fazenda, a Agripastos, no Paraná, as máquinas têm em média dez anos, relata. "Temos uma boa conservação e isso reduz o custo de produção."