O fato do agronegócio ter mais crédito à disposição na safra 2015/16 não tem seduzido os produtores. Diante de um cenário econômico nebuloso, a tomada de recursos pelo setor nos seis primeiros meses da temporada (jul-dez/15) -- período que costuma concentrar a maior parte da demanda por crédito oficial -- alcançou R$ 76,5 bilhões, praticamente o mesmo montante de uma ano atrás, mas apenas 41% dos R$ 187 bilhões disponibilizados pelo governo federal para o atual ciclo. Sem projeções de avanço na segunda metade da safra, o próprio governo estima que o volume total de recursos fique abaixo dos R$ 156 da safra passada.
R$ 63,4 bi
foram concedidos à agricultura empresarial nas modalidades custeio e comercialização, R$ 8,5 bilhões (1,55%) a mais do que no ano passado. O maior avanço, contudo, foi registrado nos recursos emprestados a juros livres, que cresceram quase 40%, para R$ 7,7 bi. As linhas de crédito a taxas controladas movimentaram R$ 55,7 bi, 12,8% mais que um ano atrás.
Uma série de fatores explica a prudência do setor , a começar pela elevação dos juros. Ao invés dos 3,5% a 5,5% da safra passada, o dinheiro do Plano Safra vem carregado da taxa média de 8,75% ao ano. “O aumento foi brutal. Somado as incertezas no ar, país em crise, cotação da soja oscilando e a do milho apertada, o produtor contrata menos mesmo. E isso irá continuar até o final da safra”, aponta o economista da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Pedro Loyola.
Para o superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, parcela da culpa da redução da tomada de crédito recai sobre os bancos, principalmente os privados, que estão com restrição por conta da queda no porcentual de depósito líquido à vista. “Isso é grave. O governo precisa monitorar. E, caso continue, ofertar recursos de outras fontes”, aponta. “Do contrário, se parar essa locomotiva [agronegócio], o trem [Brasil] não anda mais.”
Na comparação com igual perído da safra passada, a única modalidade que registrou avanço significativo foi o custeio, com desembolso de R$ 51,3 bi, contra R$ 42,5 bi em 2014. “Esse aumento é ilusório. Contratou mais para cobrir o custo de produção que aumentou”, explica Loyola.
Para a comercialização foram R$ 12,2 bi, diante dos R$ 12,4 bi no período anterior. Já os investimentos recuaram de R$ 21,4 bilhões para R$ 13 bi (-39,3% ou R$ 8,4 bi). “Os investimento que já tinham começado, apenas alguma máquina ou tecnologia foi adquirida. Mas o restante vai ter de esperar”, diz Loyola.
Agricultura familiar
Os números não incluem os desembolsos aos pequenos agricultores. Dados do Banco Central mostram que, juntas, agricultura familiar e empresarial, tomaram R$ 89,56 bilhões entre julho e dezembro de 2015 -- 2% menos do que nos primeiros seis meses da safra anterior. Linhas destinadas ao custeio e comercialização da produção tiveram procura 15%, mas os investimentos recuaram 37%.