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Conhecida como o principal polo produtor de ponkan do Brasil, Cerro Azul, a 90 quilômetros de Curitiba, está buscando alternativas para fortalecer a sua economia, sustentada basicamente na agricultura. Responsável por mais da metade da produção de tangerina do Paraná, o município tem reduzido ou renovado seus pomares nos últimos anos. A perda de área com tangerina está associada à decisao do Ministério da Agricultura (Mapa) em obrigar, a partir de 2008, os produtores a colher a fruta sem galhos e folhas para impedir a disseminação da doença denominada pinta preta

Levantamento da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) mostra que, entre 2008 e 2009, o terreno destinado à ponkan subiu 600 ha em Cerro Azul, para 5,2 mil hectares, impulsionados pela renovação de pomares antigos. Em todo o estado, porém, a tangerina ocupa hoje 9,8 mil hectares, extensão 6% menor que a cultivada há duas safras. A perda de mercado do Paraná vem ocorrendo desde 2003, quando os produtores de São Paulo decidiram realocar os investimentos da laranja para a ponkan. "O problema do Paraná é a geografia desfavorável ao cultivo da fruta [ponkan]. Em Cerro Azul há alta declividade, isso impede qualquer tentativa de melhoria em sistema de produção, como irrigação, por exemplo", esclarece Paulo Andrade, agrônomo da Seab em Curitiba.

A expansão da área de florestas também é citada pelos produtores de Cerro Azul como um dos principais entraves à produção. Para impedir um maior recuo dos pomares, eles começaram a se organizar e a investir na agregação de valor. Este é o caso de Eusmar Pereira, que gastou mais de R$ 100 mil na compra de uma máquina para beneficiamento e reforma de um barracão. No local, a fruta passa por um processo de secagem e enceramento antes de ser separada por tamanho e armazenada.

A segregação e o melhoramento no visual das frutas alimentam as esperanças de venda a preços acima da média do mercado. "Se eu conseguir ganhar R$ 2 a mais por caixa consigo pagar o investimento feito com a compra da máquina. Só assim poderemos ganhar mais e continuar plantando. Nunca vou deixar de cultivar ponkan para plantar florestas", conta Pereira. Hoje, a caixa de ponkan vale R$ 7 em Cerro Azul.

Mas Pereira e mais um pequeno grupo de produtores são considerados exceção em Cerro Azul. A maioria dos fruticultores pertence à agricultura familiar e luta para manter o município na liderança na produção da fruta. Com quatro mil pés de tangerina, João Arps, é um dos agricultores que vê seu pomar sendo cercado pela madeira. "Cinco quartos da área (20% do total) estão com pinus", revela. Oprodutor diz não ter condições de comprar maquinário para beneficiamento. "Como vou investir se ainda estou pagando o trator?", questiona.

Com intenção de levar a publico a situação do Vale do Ribeira, a secretaria de agricultura e o sindicato rural do município criaram uma Câmara Técnica, que começou a discutir junto ao governo estadual as normas fitossanitárias para comercialização dos produtos. No primeiro encontro, realizado no início do mês, o presidente da Associação Comercial de Cerro Azul, Raul Vilela Guiguer, disse que nos dois últimos anos o Paraná perdeu 70% do volume de vendas. "Sem as folhas, o consumidor não sabe mais se as frutas são frescas e a procura diminui. A ponkan da agricultura familiar do Vale do Ribeira está acabando", lamentou.

Paulo Andrade diz que a tendência é que a área de tangerina se mantenha entre 9 mil e 10 mil hectares no Paraná. Com isso, a produção deve se estabilizar. Na safra que começou a ser colhida, o Paraná deve retirar cerca de 180 mil toneladas de tangerina, 3% menos do que em 2009. A redução é atribuída ao excesso de chuvas na época de floração das plantações. O estado ocupa a segunda colocação no ranking nacional, que é encabeçado por São Paulo.

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