Existe apenas um caminho para o agronegócio paranaense: uma agricultura intensiva e tecnificada, em que drones e aplicativos fazem a diferença na produção de alimentos sustentáveis, com alto valor agregado e propriedades nutracêuticas. “Se a gente continuar ensacando grãos e engordando Nelore, provavelmente vamos estar fora do mapa da economia agrícola mundial em pouco tempo”, alerta o engenheiro-agrônomo Florindo Dalberto, presidente do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), órgão de pesquisa estadual que completa 45 anos.
Não sem motivo, um seminário sobre agroinovação é um dos principais pontos do programa de aniversário do Iapar, na sede da instituição, nesta quinta-feira (29), em Londrina. Florindo Dalberto diz que, para enfrentar os desafios tecnológicos, o Paraná tem vantagens competitivas importantes, como a boa organização das cadeias produtivas, a infraestrutura de rodovias e portos, a capacidade instalada para transformação dos produtos. Mas só isso não basta. “Precisamos partir para a agregação de valor. Seja na horticultura, na fruticultura, pecuária ou produção de grãos. O foco é a riqueza gerada pelo conhecimento, sem descuidar da sustentabilidade. Esse é o novo mundo da agricultura”, garante.
Um projeto-piloto do Iapar, dentro deste novo enfoque, será o Parque Tecnológico da Mandioca e da Laranja, que deve começar a funcionar ainda este ano no município de Paranavaí, na região Noroeste. Apoiado na Lei de Inovação Estadual, que incentiva parcerias público-privadas em inovação e pesquisa, o Parque pretende ser um centro de aproximação de startups do agronegócio, pesquisadores e produtores rurais. O engenheiro-agrônomo Mário Takahashi dá um exemplo real: “Estou discutindo com uma empresa privada a ideia de desenvolver um tipo de ‘Waze’ (aplicativo de geolocalização por satélite) para monitorar as pragas nas lavouras de mandioca. Os agricultores acessam o aplicativo, apontam a existência do problema e isso cria um mapa de concentração da praga. Com isso, conseguiríamoss fazer um alerta”. Ou seja, antes mesmo de o Parque Tecnológico estrear, as ideias já começam a tomar forma.
Mitos superados
Nos anos 70, quando o Instituto Agronômico do Paraná foi criado, as doenças cítricas faziam do Paraná terra proibida para a produção de laranjas, o café estava prestes a se tornar uma cultura “perdida” para o estado e a erosão devastava propriedades a rodo, despejando toneladas de solos em rios e córregos.
Passados 45 anos da criação do instituto, os males da época entraram para o rol dos problemas insolúveis superados pelos paranaenses, com uma mãozinha decisiva do Iapar e do extensionismo rural. Em relação à laranja, por exemplo, o Programa de Fruticultura do Iapar desenvolveu cultivares que garantiram o estabelecimento dos pomares nas regiões Norte e Noroeste. O estado passou a ser exportador do suco e da fruta in natura, alcançando na última safra praticamente o dobro de produtividade em relação à média nacional.
No café, após a geada negra de 1975, a pesquisa ajudou a mapear as regiões adequadas à produção e desenvolveu o modelo de plantio adensado com foco na qualidade da bebida, hoje premiada nacionalmente. A hemorragia da perda de solo pela erosão, por outro lado, uma ameaça sempre constante, foi estancada com atuação nas microbacias, plantio direto, terraceamento e cultivo mínimo.
Deu tão certo que as técnicas inspiraram projetos similares em outras regiões brasileiras e mesmo no exterior. As pesquisas “quebradoras de mitos” e agregadoras de ganhos de produtividade se estenderam ainda para culturas como algodão, arroz, cereais de inverno, feijão, milho e forrageiras, e, também, para pecuária, recursos florestais e sistemas de produção. É um trabalho que exige anos de pesquisa antes de alcançar resultados definitivos, envolvendo dezenas de pesquisadores em 16 fazendas experimentais, 23 estações agrometeorológicas e 25 laboratórios de diferentes áreas de especialidade.