Há mais de 50 anos, ainda moço, seu Wilmo Orlando deu um importante salto tecnológico na propriedade da família: comprou um trator, modelo 1965, o primeiro que eles tiveram. Hoje, com 77 anos e ao lado do neto, Fernando Orlando, ele aparece mexendo num tablet no meio da lavoura de soja em Rio Verde (GO). Meio relutante, é verdade, mas com a experiência de quem sabe quando as coisas tomam um caminho que não tem mais volta.
O que chamava a atenção do seu Wilmo eram mapas com imagens de satélite e dezenas de variáveis, como velocidade das plantadeiras, quantidade de sementes distribuídas por talhão de terra. Coisa que o neto ‘inventou’. E ele aprovou. “Meu avô viu que, quanto mais rápido nós nos adaptássemos à tecnologia, mais rápido conseguiríamos corrigir nossos defeitos e aumentar nossa produtividade”, diz Fernando.
A fazenda deles está entre as 110 propriedades que, desde o início da safra 2016/17, estão testando a plataforma Field View, da Climate Corporation, braço da Monsanto para agricultura digital. Por enquanto, são 200 mil hectares mapeados pela plataforma no país. O lançamento oficial está previsto ainda para este ano, na próxima safra de verão. Nos Estados Unidos, a ferramenta já abrange 38 milhões de hectares.
Plena produtividade
A agricultura passa por uma nova revolução. Após a Revolução Verde, que turbinou a produção de alimentos no século passado, chegou a vez da Revolução Digital. “Hoje, 30% da produção depende do clima. O restante se baseia em decisões dos agricultores. E a nossa meta é que elas sejam cada vez mais precisas”, diz o presidente global da Climate Corporation, Michael Stern. Ele utiliza o exemplo dos concursos de produtividade, em que o rendimento dos talhões chega a ser o triplo das médias nacionais. “A oportunidade existe. A genética consegue produzir esses números, essa é a promessa da agricultura digital”.
O ganho em eficiência é evidente: por meio de um drive e de um tablet instalados no maquinário, a plataforma começa sua ‘colheita’, incluindo todo tipo de informação sobre o trabalho que está sendo feito. Os dados são cruzados com imagens de satélite – mapeando doenças, por exemplo – e repassados em tempo real para a ‘nuvem’.
Ou seja, pela internet, em qualquer parte do mundo, o produtor pode acompanhar o que está acontecendo em cada talhão da propriedade, naquele exato momento.
No caso do Fernando e do seu Wilmo, a intenção com o Field View é manter a produtividade em 80 sacas de soja por hectare e, com o volume de informação, reduzir os custos. “São mais de 50 variáveis que o programa pode me passar e posso dizer que 50 variáveis ainda são pouco perto do que a gente precisa melhorar. Isso vai ser essencial”, reforça.
Com a ‘pulga atrás da colheitadeira’
O produtor Felipe Schwening, também de Rio Verde, é mais um que está testando o Field View. Para ele, o diferencial, por enquanto, é a agilidade da plataforma. Felipe conta que já trabalhava com os softwares das próprias fábricas de maquinário. No entanto, tinha que baixar os relatórios um por um. “E como essa época é muito corrida, quase sempre eu pegava esses mapas só no final do plantio. Então, até conseguia ver, mas já tinha passado”, acrescenta.
Neste ponto, a ferramenta da Monsanto facilitou o dia a dia dele, porém, no geral, ainda traz mais dúvidas do que respostas. A companhia procurou adaptar o programa à realidade dos produtores brasileiros, contudo, numa interface que parece tão pessoal, Felipe acredita que o software poderia ir além no ‘quesito’ personalização, incorporando ferramentas de gestão e controle de gastos, por exemplo. A essa demanda, a Climate Corporation abre a possibilidade para que o Field View, no futuro, seja uma plataforma aberta, assim como as lojas de aplicativos para smartphones, em que os usuários podem cadastrar seus próprios programas. De restante, o agricultor ainda espera os resultados. Quem sabe após a colheita: “acho que essa ferramenta está no começo. O custo-benefício, a gente ainda não viu. Agora é que vamos cruzar as informações do plantio com a colheita, para fazer um planejamento mais adequado no próximo ano. São respostas que a gente não tem, estamos só com as perguntas.”
Outra dificuldade é a internet. Ou a falta dela. Se, na cidade, o serviço já levanta bastante reclamação, no campo, muitas vezes, ele sequer existe. Por isso, diferentemente dos EUA, por aqui, os produtores não conseguem fazer o acompanhamento em tempo real. O serviço acaba ficando para o dia seguinte. “É um grande desafio, há vários obstáculos para ter um bom desempenho mesmo sem internet”, reconhece Jim Ethington, vice-presidente de produto da Climate Corporation. “Mas a máquina não perde nada. E vamos trabalhar com parcerias, algo num formato de combinação entre wi-fi, rádio, 4G”, completa.
Que toda revolução tem seus percalços, isso é certo. Todavia, para quem viu “algumas” acontecendo, ao vivo, o final costuma valer à pena. “Antes era um sofrimento!”, brinca seu Wilmo Orlando. “Compramos um tratorzinho e fomos aumentando, aumentando e hoje chegamos, estamos bem. Agora é bom demais”, arremata.
*O jornalista viajou a convite da Monsanto.
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