| Foto: Divulgaa§a£o

Apesar das turbulên­cias econômicas, vi­­venciadas especialmente em países de­­senvolvidos como Estados Unidos e da Europa, o apetite por soja e milho deve continuar crescente na China, o maior consumidor global das duas commodities. Em entrevista ao Agronegócio Gazeta do Povo, o doutor em Economia Marcos Fava Neves fala sobre as mudanças de hábito de consumo no gigante asiático e suas interferências em outros mer­­cados. O especialista, que roda o mundo fazendo palestras voltadas às perspectivas do setor, também falou sobre o impacto que a valorização da moeda norte-americana causa à agricultura brasileira. Confira abaixo os principais trechos dessa entrevista.

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Por que o crescimento da China tem sido mais tímido em relação a anos anteriores?

É uma ligeira desaceleração, natural, um ajuste de rotas. A China chegou a crescer 10%, 11%, números assustadores. Agora o novo patamar é entre 7% a 8%, o que mesmo assim é uma enormidade. A China também passa por aumento de custos de produção, que são devidos a uma política de maior regulação na produção e aumento de salário mínimo, o que se traduz em maior distribuição de renda.

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Existe sustentação a esse apetite crescente por soja e milho?

A China vem passando por um processo de urbanização. Mas quase 50% de sua população ainda é rural. A mudança de hábito de consumo para produtos com maior conteúdo de proteína, somado ao crescimento da população e à distribuição de renda, garantem a China como grande compradora de grãos nos próximos anos. O país não deve abrir mão de suas indústrias de avicultura, suinocultura, mas não terá solo e água disponíveis para seu abastecimento de grãos, e aí entra o Brasil como grande fornecedor.

A crise nos Estados Uni­­dos e Europa, importantes parceiros comerciais da China, pode interferir na renda ou na demanda chinesa por soja?

Não acredito nisso. Os EUA já estão passando por recuperação e a Europa é um mercado maduro para alimentação. O grande crescimento se dá mesmo no mundo emergente. Lembrando que hoje os maio­­res importadores de comida no mundo, crescendo a olhos vistos, são a África e o Oriente Médio. Não creio em arrefecimento da demanda chinesa por grãos. Não é o que mostram os dados da balança comercial brasileira nos primeiros meses de 2013.

Para o Brasil, especificamente, a valorização do dólar significa oportunidade ou custos altos?

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Para o agronegócio brasileiro é positivo, pois boa parte dos custos, que aumentaram muito nos últimos anos, é tomada em reais. E o exportador brasileiro terá mais reais pela mesma produção vendida ao exterior, o que deve trazer alívio. Por outro lado, complica muitos outros setores da economia brasileira que dependem de muitos insumos importados para produzir. A alta do dólar também exerce grande pressão na inflação, que está muito perigosa em 2013. Portanto, se ganhamos com o agro, perdemos em outros setores.

Há margem para que os preços da soja e do milho se mantenham em alta mesmo com uma expectativa de recuperação da produção norte-americana?

A recuperação americana dependerá do clima neste ano. Por enquanto está melhor que o ano passado. O atraso no plantio foi recuperado em parte e as chuvas têm vindo de maneira adequada. Creio que devemos ter safra maior e preços menores, mas ainda remuneradores para a produção eficiente do Brasil.