Os consecutivos embargos à carne paranaense, motivados pela descoberta do príon da doença da vaca louca em uma fazenda do estado no fim do ano passado, forçaram mudanças nas operações da Terminais Portuários Ponta do Félix (TPPF), em Antonina, no litoral do Paraná. Antes especializada na exportação de carne em pallets (estrados), a TPPF investiu em novas instalações para o recebimento e a armazenagem de fertilizante.
A readequação das operações tem como objetivo atender o novo contrato com uma empresa russa, uma das produtoras de cloreto de potássio do mundo (o nome não é revelado por questão contratual), já cliente do terminal. O acordo garante a movimentação de 10 milhões de toneladas do produto em dez anos.
O contrato inclui também a armazenagem do cloreto de potássio (KCl), um dos três insumos utilizados na formulação NPK (sigla em inglês para nitrogênio, fósforo e potássio) dos adubos, vindo da Bielorrússia, onde está a jazida.
Hoje, a capacidade estática da Ponta do Félix é de 200 mil toneladas, mas mais dois armazéns, com potencial para 120 mil toneladas cada um, serão construídos. Um novo guindaste com capacidade de até 20 mil toneladas do produto por dia foi instalado – agora são dois maquinários.
“Os tipos de navio que transportam carne em pallets só tinham como destino Rússia e Cuba. O primeiro embargou o produto e Cuba está fora do mercado economicamente. Fertilizante foi uma alternativa. Do contrário, o terminal estaria parado”, afirma diretor comercial operacional da empresa, Cícero Simião. Atualmente, a TPPF também movimenta açúcar.
Alívio ao produtor
A possibilidade de estocar fertilizante deve trazer alívio para os produtores de grãos do país. Na última safra de verão, a sobrecarga, as limitações estruturais e a falta de trabalhadores no Porto de Paranaguá atrasaram o desembarque do produto e, consequentemente, a entrega em vários estados produtores. O litoral do Paraná é a porta de entrada de 40% de todo o fertilizante utilizado na agricultura brasileira e, posteriormente, distribuído para diversos estados, como Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, além do próprio Paraná.
“A empresa russa fará remessas lineares, com navios chegando todos os meses. Desta maneira, o produto estará no Brasil e poderá ser entregue conforme solicitação dos importadores”, diz Simião. Existe a expectativa de que o adubo também fique mais barato, pois o frete, na entressafra, deve ser menor.
Condições técnicas viabilizaram novo contrato do terminal
A ampliação do contrato com a mineradora russa demorou cerca de dez meses para ser concluída. Além dos detalhes comerciais, as novas condições técnicas do Porto de Antonina foram fundamentais para o negócio.
Entre elas está a dragagem de manutenção no terminal, concluída no mês passado. O serviço nos pontos críticos do acesso ao terminal retirou aproximadamente 1 milhão de metros cúbicos de sedimentos, ampliando a profundidade para mais de 8 metros. Há 15 anos o local não recebia uma dragagem. Além disso, a liberação por parte da Capitania dos Portos para navegação noturna possibilita o trânsito de navios maiores.
“O Poto de Antonina não está mais limitado à navegação nas marés diurnas. As manobras ocorrem 24 horas”, explica o diretor comercial operacional da empresa portuária Ponta do Félix (TPPF), Cícero Simião.
Nos primeiros seis meses do ano, o terminal recebeu 50 navios, 29 a mais que no mesmo período do ano passado.
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