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Entenda o que levou a Seara Agroindustrial a pedir recuperação judicial

Frustração na safra do ano passado e exposição da empresa aos preços de soja e milho ajudam a entender cenário desfavorável vivido pela empresa. | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
Frustração na safra do ano passado e exposição da empresa aos preços de soja e milho ajudam a entender cenário desfavorável vivido pela empresa. (Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo)

Pela vocação natural à produção e exportação e como segmento indispensável ao abastecimento e segurança alimentar, o agronegócio suporta, sofre menos e até faz frente à crise política econômica que se instalou no país. Mas não passa imune. A Seara Agroindustrial, gigante do agronegócio, com sede em Sertanópolis, Norte do Paraná, entrou na semana passada com um pedido de recuperação judicial bilionária com um passivo estimado em R$ 2 bilhões.

Da frustração de safra no ano passado, à exposição da empresa aos preços de soja e milho e à crise econômica interna, a Seara ainda não conseguiu renovar importantes linhas de crédito. O cenário limitou a originação de grãos, um de seus principais negócios, e comprometeu o capital de giro da empresa. Entre outras variáveis que impactaram e impactam as atividades industriais, de comércio e serviços da Seara no mercado interno e internacional está a intensa variação cambial. Além disso, a empresa se ressente do atraso na restituição de créditos tributários pelo governo federal, estimados por ela em R$ 600 milhões, relativos à desoneração que incide no momento da exportação.

Logística

A operação, ou melhor, a relação comercial com a antiga ALL, atualmente Rumo Logística também não estava bem. Em Itiquira (MT), o terminal da Seara foi praticamente engolido pelo terminal da Rumo em Rondonópolis (MT). O terminal da Seara chegou antes, sustentado em um acordo operacional com a ALL, que mais tarde construiu um terminal em Rondonópolis e desviou para lá quase toda a carga e o transporte ferroviário de grãos do Mato Grosso. Além disso, em diversos outros terminais há relatos de atrasos e descumprimento na alocação de vagões para o transporte de grãos contratados pela Seara.

Com terminais multimodais no Paraná (Londrina, Maringá e Paranaguá) e Mato Grosso (Itiquira), além de escritórios e filiais no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, uma frota própria e agregada de centenas de caminhões e de vagões ferroviários, a Seara controla uma das principais estruturas logísticas de transporte de grãos do país. Entre as principais operações, além do mercado de grãos, a logística multimodal e integrada, a Seara atua com indústrias de ração pet e de milho.

Com mais de 800 funcionários e um faturamento que já atingiu R$ 3,5 bilhões, a recuperação judicial foi o caminho encontrado pela empresa para reestruturação econômica e financeira. A manutenção das unidades e dos serviços se apresenta como condição ao pagamento do seu passivo. Com estruturas modernas e estrategicamente distribuídas, a empresa é quase que condição ao escoamento da produção em suas áreas de atuação e distribuição. A reestruturação, portanto, se apresenta como fundamental ao pleno desenvolvimento do agronegócio nas regiões onde está presente.

Risco e proteção

A exposição às cotações e ao clima, variáveis alegadas pela Seara, é um risco pertinente ao agronegócio. Indústria a céu aberto, sujeita a frustrações climáticas, a agricultura e seus preços são fortemente impactados pela relação de oferta demanda, supersafras e escassez de produtos que desregulam o mercado. Outro fator que precisar ser considerado é a exposição cambial. País de vocação natural ao agronegócio, também uma nação de intensa variação cambial, provocada não necessariamente pela economia, mas pelo viés das crises políticas que se tornaram crônicas no Brasil.

O Brasil evoluiu em produção, tecnologia e conquistou o mercado exportação. Mas ainda utiliza muito pouco as ferramentas de proteção de cotação e produção. Derivativos, hedge e mercado futuro, garantias de preço e câmbio, essenciais em um mercado globalizado e dolarizado. Assim como é possível mitigar os risco do clima, seja com manejo ou tecnologia, também é possível controlar ou reduzir os riscos econômicos e financeiros.

Tudo tem um preço. São produtos e serviços de um mercado que vai muito além da porteira. É o jogo do agronegócio economicamente sustentável, que não passa ileso às crises econômicas, ao descompasso de oferta e demanda ou então do revés que vem do clima. Mas que precisa, como condição, se proteger, mais e melhor, para mitigar os riscos inerentes ao negócio.

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