Cuiabá, MT - A corrida por aumento na produção foi vencida nas últimas safras, mas, por si só, ainda é insuficiente para garantir lucratividade aos agricultores no estado do "tudo ou nada". Prejudicado pela logística, Mato Grosso ainda apresenta rentabilidade inferior aos vizinhos e segue em busca de alternativas de ganho. Em passagem pela região na última semana, a Expedição Safra Gazeta do Povo apurou que existe um movimento renovado para agregar valor à produção.
Boa parte dos produtores de soja tenta garantir o adicional pago à produção não-transgênica. As estimativas locais são de que as sementes convencionais ocupem 30% da área plantada. Os produtores de soja convencional recebem até R$ 2 a mais por saca, diferença que os agricultores não podem dispensar.
O gerente de unidade da Cooperativa Agroindustrial C.Vale em Sorriso, Nilson Roque, afirma que, neste ano, os preços pago à produção não-transgênica chamaram a atenção dos produtores. "Percebemos que os armazéns intensificaram a campanha de recebimento de convencionais."
Os produtores precisam investir em infraestrutura para ter direito ao "prêmio". Alcebi Soldera, de Primavera do Leste (Sul do Mato Grosso), que planta 900 hectares, relata que vai montar estrutura de segregação para receber adicional. O lucro desta temporada deve ser direcionado ao projeto.
Consideradas centros de produção de soja convencional, as regiões Norte e Oeste de Mato Grosso devem seguir na contramão da tendência nacional e continuar usando as cultivares tradicionais. Consultor agronômico do maior grupo produtor de soja em Nova Mutum, Marcos Lima afirma que a área destinada ao grão convencional deve se manter em 50% nas fazendas que monitora. Ele confirma que os compradores pagam adicional de até US$ 1,5/sc.
Integração
Outra alternativa usada para aumentar a lucratividade das extensas lavouras de grãos é a integração com pecuária e florestas (ILPF). O sistema ganha espaço em áreas onde só se via soja, ou só pasto.
De acordo com o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otávio Celidonio, o produtor está mais consciente do problema de desmatamento. "É muito mais viável para o agricultor transformar áreas de pastagens degradadas em cultiváveis e investir na integração do que desmatar florestas", acrescenta.
Com cerca de 3 mil hectares em Sapezal (Oeste), Eduardo Godoi é referência na adoção da integração lavoura-pecuária. No inverno, Godoi destina 1,6 mil hectares ao plantio do milho safrinha, onde também semeia braquiária (pasto). Depois de colher entre 5 e 6 mil toneladas do cereal, o produtor coloca quatro cabeças de gado por hectare, que se alimentarão da pastagem.
"Consigo fazer três safras em uma mesma área (soja, milho e gado)". Tanto as sementes de soja como as de milho são convencionais em 100% da área. "Quase toda a minha soja e boa parte do milho vão para o mercado Europeu, assim como o boi", revela.
A ILPF terá apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Mato Grosso. Uma unidade do órgão será inaugurada em junho deste ano em Sinop. Uma das linhas de ação será justamente o melhor aproveitamento da terra. Essa meta deve pautar pe squisas de campo no estado. "Estamos capacitando 100 técnicos de campo, que terão a funções de multiplicadores. Eles darão consultoria aos produtores", revela Lineu Alberto Domit, chefe de transferência de tecnologia da Embrapa.