Poucos paranaenses sabem, mas o estado produz borracha natural, extraída da seringueira. A atividade se resume a, no máximo, 30 propriedades, concentradas em menos de mil hectares, na região Noroeste. É apenas um terço do número de produtores de uma década atrás.
As boas notícias são que o produto tem enorme procura, preço excelente e alta produtividade no estado. O Brasil produz apenas 120 mil toneladas anuais de borracha natural, 36% das 350 mil toneladas que consome. Líder mundial até a década de 1920, o país é hoje apenas o nono produtor mundial, com 1% do volume. São cultivados 200 mil hectares.
A produtividade paranaense, no entanto, supera a média nacional. Uma área a partir do quarto ano de extração ultrapassa as 2 toneladas por hectare/ano, contra a média de 1,8 mil toneladas obtida em outros estados. Além disso, o estado tem solo e clima para expandir sua área com seringais. Última fronteira meridional para essa árvore nativa da Amazônia, acostumada ao calor, a cultura pode se desenvolver em toda a metade norte do Paraná.
Com mercado garantido pela escassez, a rentabilidade foi às alturas. A Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, que detém o maior plantio do estado, em Paranapoema, na divisa com São Paulo, obteve no ano passado uma receita líquida de R$ 1.637 por hectare. É um rendimento maior que o da cana, a atual vedete do agronegócio que raramente chega a R$ 1.350 por hectare e mais de três vezes o da soja, na faixa dos R$ 500.
O lucro é garantido, mas demora a chegar. A coleta do látex (a seiva da planta) começa seis anos após o plantio. Outro entrave é o custo de implantação da lavoura: cerca de R$ 8 mil por hectare. Entre as vantagens da seringueira estão sua perenidade e produção distribuída ao longo do ano. As árvores produzem por até 35 anos, durante dez meses por ano. A "sangria" (corte em espiral no caule, para a extração do látex) é feita a cada quatro dias. No Paraná, os seringais "descansam" nos meses de julho e agosto, quando trocam as folhas.
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), responsável pelo desenvolvimento da heveicultura no estado, estimula o consórcio da seringueira com o café nos primeiros anos, como fonte de renda para o produtor. "A seringueira aumenta a produtividade do café, porque atua como quebra-vento e reduz a temperatura na lavoura. Já a seringueira cresce o dobro em áreas com café", afirma o agrônomo Jomar da Paz Pereira, do Iapar. Outra opção de renda são culturas de subsistência, como feijão e arroz.
O consórcio agroflorestal deu bons resultados na propriedade da família Gusman, de 160 hectares, em Paranacity (Noroeste). Há 17 anos, o patriarca, José Gusman Nunes plantou 3 mil seringueiras em meio a 6 mil pés de café. "Todo mundo caçoava de mim", conta Nunes, hoje com 84 anos.
Quem ria dele hoje sente inveja. O seringal produz há 12 anos 3 mil quilos de látex mensais e a família vende sementes para reprodução. O cafezal, já velho, ainda dá frutos, embora com baixa produtividade. A seringueira virou a principal fonte de renda do clã, formado por quatro famílias. "Vamos aumentar a área", conta Paulo Henrique Gusman, 28 anos, neto do pioneiro.