A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) confirmou nesta terça-feira (31) que vai exigir a implantação de um plano de manejo para o glifosato, um dos principais herbicidas utilizados no mundo para o controle de ervas daninhas.
Representantes da agência vão se reunir uma comissão da Weed Science Society of America, uma das principais entidades norte-americanas dedicadas ao estudo de ervas daninhas, para discutir quais exigências devem constar em um plano final para o glifosato, disse Larry Steckel, cientista norte-americano que preside a comissão.
Um porta-voz da EPA não quis dar mais detalhes sobre o plano, mas comentou que as exigências da agência seriam similares àquelas impostas ao Enlist, um novo herbicida produzido pela Dow AgroSciences que utiliza o glifosato e o 2,4-D como insumos-base. Neste caso foi exigido o monitoramento de ervas daninhas, a educação de fazendeiros e planos de reparação.
As exigências também incluem que as empresas forneçam um relatório completo à EPA sobre o estado de resistência das ervas, assim como deve informar aos interessados sobre dificuldades no controle das plantas por meio de uma página na Internet.
A porta-voz da Monsanto, Charla Lord, não quis discutir se a companhia estava negociando um plano com os reguladores, mas disse que a Monsanto "vai continuar a trabalhar com a EPA para garantir o manuseio apropriado do produto à medida que avançamos no processo regulatório".
A avaliação preliminar da EPA sobre os riscos do glifosato deve ser divulgada para comentários públicos ainda este ano, no mesmo momento em que a agência vai publicar sua proposta de plano de gestão de ervas, também para escrutínio público.
Efeitos colateraisAo menos 14 espécies de ervas daninhas e biótipos desenvolveram resistência ao glifosato nos EUA, o que afeta mais de 24,2 milhões de hectares de terras férteis, de acordo com dados compilados pelo Departamento de Agricultura dos EUA e por cientistas especializados em ervas norte-americanas. No Brasil existem 6 plantas com algum grau de resistência ao químico.
As ervas voluntárias prejudicam a produtividade das safras e elevam os custos de produção. Em manifestações como o a buva (Conyza spp), a presença de seis pés por metro quadrado é suficiente para reduzir em até 50% a produtividade da soja, indicam pesquisas.
Dano controversoHá amplo debate sobre os efeitos do glifosato para a saúde humana. Estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam a descoberta de que o químico é "provavelmente cancerígeno para os homens", uma conclusão que, de acordo com o grupo de trabalho responsável pelo estudo, foi feita a partir de uma revisão de anos de pesquisas científicas. Foram encontraram vestígios do herbicida na água, comida, urina e no leite materno.
No contraponto, reguladores dos EUA e de diversos países há muito consideram o produto como um dos mais seguros disponíveis. Uma reavaliação sobre o herbicida feita pelo governo da Alemanha para a União Europeia no ano passado concluiu não haver ligação entre o agrotóxico e o câncer. A Monsanto, que detinha a patente do glifosato até 2000 e no ano passado faturou mais de US$ 5 bilhões com o insumo (Roundup), afirmou ter ficado comprovada repetidas vezes a segurança da substância.
Em meio a esse impasse, o modo como a EPA vai lidar com a questão sobre o glifosato é acompanhada de perto pela agroindústria. O plano de gestão de ervas não vai lidar com as preocupações em relação à saúde humana, mas a agência também analisa os dados médicos como parte de uma reavaliação sobre o herbicida.
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