O know-how para fabricar veículos duráveis e resistentes começou a ser obtido há 70 anos, quando a indiana Mahindra foi criada para montar jipes da marca Willys para os americanos, na última ofensiva da II Guerra Mundial.
É com esses atributos, força, durabilidade e resistência, colocados à prova na guerra e em longas jornadas agrícolas em solo indiano, que a multinacional, maior fabricante de tratores do planeta, espera conquistar os produtores brasileiros, especialmente os da agricultura familiar.
“Os tratores no Brasil seguem o padrão construtivo europeu, que é mais frágil, por que lá as máquinas trabalham entre 300 e 400 horas por ano. Os modelos da Mahindra são usados intensamente pelos agricultores indianos, por até mil horas por ano, algo muito mais próximo da realidade brasileira”, diz o diretor-geral da Mahindra Brasil, Jak Torretta.
A empresa indiana participa da 40ª Expointer, que acontece nesta semana em Esteio, no Rio Grande do Sul, e não é tão desconhecida por aqui. A companhia atuou no país por sete anos fabricando picapes e utilitários na Zona Franca de Manaus, em uma parceria com a Bramont, até desistir do mercado local em 2015. À época, alegou dificuldades com o real desvalorizado, economia em marcha lenta e mudança nas regras para os importados.
Tratores Mahindra e agricultura familiar
Os indianos, no entanto, viram o potencial da agricultura brasileira e retornaram. Compraram no final de 2016 a unidade da Bramont no município de Dois Irmãos, no Rio Grande do Sul, que montava e vendia seus tratores. A potência das máquinas, de 26 a 95 cv, aumentou e foi estendida até 130 cv, o que deve fazer a empresa chegar forte no mercado do Centro-Oeste. Inicialmente, os tratores mais potentes serão importados, mas logo devem seguir o caminho de nacionalização de parte dos componentes.
Para mostrar que a suposta robustez da marca não é só propaganda, a Mahindra oferece garantia de cinco anos aos tratores, algo ainda não encontrado na concorrência. O público-alvo principal está na agricultura familiar, que responde por 75% do mercado brasileiro de máquinas até 130 cv. Esse público encontra-se, principalmente, no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais, e usa o maquinário para cultivo de milho, mandioca, fumo e pecuária de leite.
O plano de crescimento no Brasil, no entanto, mantém os pés no chão. A meta é fechar 2017, primeiro ano de operação própria no país, com vendas de pelo menos 500 tratores. Em termos absolutos, não é muito, mas representa quase todo o montante vendido em cinco anos pelo antigo terceirizado.
“Nosso foco agora é aumentar o número de concessionárias, chegando a 20 até o final de 2017. Depois vamos tentar dobrar as vendas a cada ano e alcançar 10% de participação no mercado de tratores”, revela Torretta. Para crescer mais rápido na América do Sul, o grupo indiano estuda também a aquisição de empresas de máquinas e implementos.
Se alcançar 10% do mercado de tratores brasileiro, a Mahindra venderá anualmente duas mil máquinas, faturando US$ 50 milhões. Pouco ainda para uma empresa que, em 2016, atingiu US$ 6,3 bilhões com a venda de 263 mil tratores em todo mundo.
Que ninguém duvide do plano B da Mahindra, de expandir pela via das aquisições. Afinal, trata-se de uma multinacional que domina 40% do mercado de tratores da Índia, está em terceiro lugar nos Estados Unidos, e atua em 100 países onde emprega 200 mil pessoas. Os indianos, ao que parece, não querem passar despercebidos uma segunda vez pelos consumidores brasileiros.
* O repórter viajou a convite da organização da 40ª Expointer
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