Enquanto os produtores de feijão tentam se organizar para disciplinar o mercado e valorizar as cotações levando as negociações para a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), o governo federal elegeu o alimento como um dos maiores vilões da cesta básica e planeja medidas para conter a inflação. Para segurar os preços no campo e aliviar a pressão no bolso do consumidor, o governo vai vender parte dos estoques públicos do grão.

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De acordo com o superintendente de Operações Comerciais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), João Paulo Moraes Filho, os leilões irão começar neste mês e devem colocar no mercado até 40 mil toneladas do grão. Desovando cerca de 20% de seus estoques, a estatal espera conter a alta de preços ao consumidor sem prejudicar a renda do produtor. "Temos que olhar os dois lados do mercado. Hoje o produtor tem um preço melhor e se sente estimulado a produzir, mas o consumidor tem um preço final alto. A questão não é baixar o preço, mas, pelo menos, estabilizá-lo", declara Moraes Filho.

No mês passado, o feijão carioca foi um dos itens que mais pressionou o Índice de Preços ao Con­­su­­midor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. O preço do produto, que vinha de uma queda de 1,87% em março, teve aumento de 30,10% em abril, conforme prévia do Instituto Brasileiro de Geo­­grafia e Estatística (IBGE). Na capital paranaense, o quilo do carioca já subiu 41% e o do preto aumentou 32% desde o início do ano, de acordo com o serviço Disque Eco­­nomia da Prefeitura de Curitiba. Os consumidores curitibanos estão pagando em média R$ 2,52 pelo quilo do produto (média carioca e preto). O quilo do carioquinha chega a custar até R$ 4,95.

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O aumento dos preços nas gôndolas dos supermercados acompanhou a disparada das cotações ao produtor. Desde o início do ano, o preço do preto subiu quase 50% e a cotação do carioca mais que dobrou no Paraná. O primeiro saltou de R$ 50 no fim do ano passado para cerca de R$ 80. O segundo, que no final de 2009 valia R$ 55, hoje ultrapassa os R$ 110, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abaste­cimento (Seab).

Segundo analistas, será difícil o governo conseguir conter a tendência de alta do produto. "O mercado deve continuar valorizado até julho, quando entra a terceira safra. Até lá, a oferta será pequena, mesmo que o governo venda seus estoques", prevê Sandra Shetzel, analista da Unifeijão. Na avaliação de Solange Arnizaut, da corretora Ibérica, os leilões da Conab irão, no máximo, estabilizar os preços. "A qualidade desse feijão do governo é inferior à exigida pelo mercado. Se for aceito, terá um destino específico, que é a população de baixa renda. Mas de qualquer maneira não vai competir com a mercadoria extra", diz.

Sandra concorda com a avaliação. "Se os leilões de venda tiverem algum efeito sobre o mercado será psicológico, estabilizando mo­­mentaneamente as cotações. Primeiro porque os estoques são pequenos. Segundo porque é feijão do ano passado, de qualidade, mas que perdeu a cor. Acredito mais na pressão do varejo do que no poder do governo de regular o mercado", defende.

O produto que será leiloado pela Conab foi adquirido pelo governo em operações de Aqui­­sição do Governo Federal (AGF) e de Compra Direta da Agricultura Familiar (CDAF) durante o ano passado. No total, a estatal colocou em seus armazéns 178 mil toneladas de feijão (81% carioca e 19% preto). A maior parte foi comprada no Paraná, que hoje tem pouco mais de 67 mil toneladas (38% do total) em estoque.

"Mas nem tudo isso será vendido. Até porque boa parte já está comprometida com programas sociais", ressalta o superintendente de Operações Comerciais da Conab. Segundo ele, o governo teria à disposição cerca de 25 mil toneladas de feijão no Paraná e aproximadamente 40 mil no Brasil.

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