A onda de frio que atinge o país é a mais forte dos últimos 13 anos. E a paisagem bucólica, revestida pelo branco das geadas, no Sul do país já está prejudicando as lavouras de trigo e também as de café. O reflexo disso deve ser sentido no bolso do consumidor nos próximos meses. No Paraná, estado onde a situação das plantações é a mais preocupante, os termômetros não passaram de 3°C na última quarta-feira.
Pesquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, aponta que 52% da safra de trigo do estado estão sob risco, caso ocorram as geadas previstas para hoje e amanhã. — Esse percentual da lavoura está em fase de floração ou frutificação, que é a fase inicial da planta e a mais sensível. Se as geadas previstas de fato ocorrerem, será inevitável o impacto nessa safra — explicou Renata Maggian Moda, analista de mercado do Cepea.
O Paraná é responsável pela produção de 2,6 milhões de toneladas de trigo do país — quase 50% do total produzido, de 5,6 milhões de toneladas. O Rio Grande de Sul produz outros 2,4 milhões de toneladas, mas que correm menos risco porque já estão em uma fase de desenvolvimento menos vulnerável. — Nós consumimos muitos derivados do trigo. Farinha, massas, biscoitos, pão francês são alguns dos produtos que sentirão o aumento do preço com a redução da oferta do trigo por causa do frio — disse Renata.
Na última sexta-feira, a prévia do Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M) de julho já identificava a influência de alta das cotações do trigo nos índices de inflação. No atacado, as matérias-primas desse tipo subiram de 1,25% para 1,63% da segunda prévia de junho para julho. Elas foram influenciadas justamente pela alta do trigo (9,88%). Na ocasião, Salomão Quadros, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) responsável pelo levantamento do IGP-M, já indicou que “os preços dos alimentos no varejo devem voltar a subir entre agosto e setembro”. Faltar trigo, no entanto, é uma hipótese descartada, segundo o Cepea. Isso porque há outros países produtores.
A Argentina, principal fornecedor do Brasil, no entanto, enfrenta sérias dificuldades nas suas safras e já não consegue sequer abastecer o mercado local. — Com isso, teríamos que recorrer ao Hemisfério Norte. EUA, Canadá e Rússia são os nossos possíveis fornecedores. Porém, temos de lembrar que aumentar a importação com a atual cotação do dólar também terá impacto nos preços ao consumidor — frisou Renata. As lavouras de café também estão sofrendo com o frio recorde.
Da safra estimada entre 1,62 milhão e 1,80 milhão de sacas, cerca de 20% já devem ter sido afetados pelas geadas paranaenses, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), começaram a visitar as plantações ontem para se certificar sobre o tamanho do estrago. O Noroeste do Paraná é o principal polo produtivo de cafezais. Na manhã de ontem, as temperaturas estavam em -3°C. Em informe divulgado pelo Deral, o economista do órgão, Paulo Franzini, lembra que o estado já vinha de “um inverno bastante atípico, com muitas chuvas e temperaturas altas”.
Ainda no documento, ele lembra que as oscilações climáticas já haviam prejudicado as safras de milho e trigo, com o aparecimento de doenças. Franzini frisou ainda que “se confirmarem as previsões, as culturas de café que não estiverem protegidas poderão ser prejudicadas”. A Secretaria da Agricultura paranaense já está distribuindo recomendações para a proteção das lavouras. Nas plantadas há até seis meses, por exemplo, é recomendável enterrar as mudas com uma camada de terra “e mantê-las assim até cessar o risco de geada”. Já os viveiros, devem ser protegidos com cobertura ou aquecimento.
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