O professor Gustavo Pasetti, da Universidade de Rio Verde, detalha fisiologia das plantas a produtores do Maranhão e do Piauí. Em ano de clima irregular, raízes definem produtividade.| Foto: Hugo Harada/gazeta Do Povo
Comboio de mais de 40 atravessa ponte entre Baixa Grande do Ribeiro e Serra do Quilombo, no Piauí.
Discussão sobre tecnologia a centenas de quilômetros de estradas de casa. Produtores saem em busca de conhecimento.
Comboio de mais de 40 atravessa ponte entre Baixa Grande do Ribeiro e Serra do Quilombo, no Piauí. 
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Foram 800 quilômetros – perto de 700 na lama ou na poeira – para o percurso de um roteiro com visitas a propriedades rurais entre Balsas, no Maranhão, e Bom Jesus, no Piauí. E uma constatação que os produtores rurais já temiam. A safra de soja, que entra na fase final, terá variação extrema na produtividade na nova fronteira agrícola do país, com marcas nas casas de 20 a 60 sacas por hectare. O contraste foi confirmado durante o Rally Ceagro / Expedição Safra, que formou comboio de 60 veículos e envolveu mais de 100 produtores e técnicos.

A mesma variação climática que faz com que as estradas estejam encharcadas ou cobertas de poeira impede o desenvolvimento uniforme das lavouras e traz prejuízos de milhões de reais para produtores que plantam nos dois estados, onde o cultivo de grãos tem crescido a passos largos. O impacto desse problema ainda vem sendo mensurado, mas causa quebras médias de até 40% em fazendas de centenas de hectares.

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Discussão sobre tecnologia a centenas de quilômetros de estradas de casa. Produtores saem em busca de conhecimento. 

Além de verificar o que ocorre no campo, os produtores e especialistas discutiram o que pode ser feito. O professor da Universidade de Rio Verde Gustavo Pasetti mostrou que o desenvolvimento da raiz das plantas precisa ser tratado com mais atenção, bem como a aplicação preventiva de defensivos como fungicidas, para que a soja tenha condições de tirar mais água do solo.

“As tecnologias adotadas nos últimos 20 anos fizeram a soja dobrar a produtividade e o ciclo ficou mais curto. É preciso garantir o desenvolvimento das raízes para que as plantas cresçam e tenham energia para carregar as vagens sem que haja envelhecimento precoce em situações de estresse como as estiagens”, apontou.

A única saída para o produtor evoluir em tecnologia na nova fronteira é sair de casa e enfrentar centenas de quilômetros de estradas visitando propriedades, disse o agricultor Clóvis Groth. “Olhando o que acontece em outras áreas e o que estão fazendo, conferimos o que está dando certo.”

O rally mostrou que muitos produtores foram discriminados pelas chuvas e trouxe um retrato expressivo do que ocorre na nova fronteira agrícola, avaliou o diretor comercial da Ceagro Los Grobo, Cassiano Prado, que fez o percurso pelos chapadões de lavouras do cerrado nordestino. A situação é preocupante para muitos produtores e constitui uma oportunidade de conhecimento para todos, disse.

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Os produtores de Maranhão e Piauí relatam que houve lavouras que enfrentaram até 35 dias de sol contínuos. Na soma dos veranicos, são mais de 60 dias de seca, ou seja, dois terços do tempo desde a germinação das sementes. “Tem que chover com urgência para vermos se a soja se renova”, disse Dionísio Irineu Oppelt, que cultiva 350 hectares na Serra do Quilombo, em Bom Jesus (PI).

A Expedição Safra acompanhou o rally e segue viagem pelo Oeste da Bahia, onde vai conversar com produtores e técnicos dentro da sondagem da colheita. Nesta colheita, já foram percorridos todos os estados do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste. O Centro-Norte encerra o levantamento de campo sobre a expectativa do setor produtivo em relação à temporada 2012/13.