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Apesar da ampla apreciação das uvas de mesa sem sementes, que vem crescendo ano a ano, pouco se sabia sobre os mecanismos celulares e genéticos responsáveis pelo seu desenvolvimento. | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Apesar da ampla apreciação das uvas de mesa sem sementes, que vem crescendo ano a ano, pouco se sabia sobre os mecanismos celulares e genéticos responsáveis pelo seu desenvolvimento.| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Se você é daqueles que gosta de comer variedade de uva sem sementes, só não gosta do preço cobrado, anote essa boa notícia. Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, em parceria com colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conseguiram identificar o gene responsável pelo desenvolvimento das sementes nas uvas. Ou seja, a descoberta do papel do gene VviAGL11 pode ser o que faltava para aumentar e baratear a produção de uvas sem sementes, até agora obtidas com complicadas técnicas de resgate de embriões e melhoramento clássico de plantas.

A descoberta foi registrada em artigo publicado no Journal of Experimental Botany, editado pela Universidade de Oxford, Inglaterra. Desde então, pesquisadores de vários países, principalmente da China, não param de fazer contato com a equipe liderada pelo pesquisador da Embrapa Luís Fernando Revers.

“Tinha a expectativa de que a repercussão do artigo fosse boa, mas estou surpreendido como grupos de pesquisa de outros países também estavam em busca dessas respostas e agora nossos achados estão auxiliando outros cientistas”, comenta Revers.

Apesar da ampla apreciação das uvas de mesa sem sementes, que vem crescendo ano a ano, pouco se sabia sobre os mecanismos celulares e genéticos responsáveis pelo seu desenvolvimento. Os pesquisadores brasileiros desvendaram grande parte da biologia por trás da ausência de sementes, mostrando o papel principal do gene VviAGL11. “O artigo é bastante completo e descreve o gene, sua estrutura genética, a regulação de sua expressão e os efeitos de sua função na formação das sementes de videira”, diz Revers.

Metodologia

O papel do gene VviAGL11 no processo de formação das sementes foi estudado nas cultivares Chardonnay (com semente) e Sultanina (sem semente). Os níveis de transcritos de VviAGL11 aumentaram significativamente na segunda e na quarta semanas após a floração em sementes de ‘Chardonnay’, especificamente na camada responsável pela formação da casca das sementes. Na cultivar ‘Sultanina’ o gene não foi expresso durante o desenvolvimento do fruto e da semente. “Fica claro que quando o gene está funcionando corretamente essa camada se desenvolve e tem papel decisivo na formação de uma semente normal, caso contrário a semente não consegue crescer e fica apenas como um traço, encontrado nas uvas apirênicas”, aponta Jaiana Malabarba, uma das autoras do estudo, cuja tese de doutorado foi a base do artigo.

Segundo Luís Fernando Revers, a aplicação do conhecimento a longo prazo tem potencial de ajudar o desenvolvimento de novas cultivares, facilitando o trabalho e reduzindo o tempo. “A expectativa é de transformar esse conhecimento em uma ferramenta de modo que, antes mesmo de produzir a fruta, com testes de DNA, pode-se saber se a uva irá ter sementes ou não”, disse o pesquisador. A equipe continua trabalhando e o próximo desafio é avaliar a utilização desse gene em videiras adultas. “Com isso, a intenção é modificar o tamanho das sementes, tornando-as menores, por exemplo, por meio do silenciamento do gene VviAGL11”, antecipa.

Na última década o gene vinha sendo apontado como o possível responsável pelo desenvolvimento das sementes, mas ninguém tinha reunido provas para fazer esta afirmação. Revers relata que a maior parte das características agronômicas de interesse, como a presença ou ausência de sementes ou a resistência a doenças, possui a influência de um número muito grande de genes, às vezes dezenas, o que torna o assunto tão complexo, podendo ser comparado ao provérbio de “procurar uma agulha num palheiro. “O maior mérito da nossa equipe foi estabelecer e propor estratégias de investigação para reunir evidências. Também contamos com uma feliz coincidência da natureza: a presença de um marcador microssatélite posicionado em cima do gene, o que ajudou na sua descoberta”, revela.

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