Todo o ano é a mesma coisa. Chega a época das frutas e os agricultores da região de Boa Vista, em Roraima, colhem apenas 30% da produção. “O resto fica no pé ou apodrece no chão, por que não temos para quem vender”, diz Odacir Inácio Henz, líder de 600 produtores associados à cooperativa Cooperhorta. Incrédulo, o jornalista insiste: “É isso mesmo? Vocês perdem 70% das frutas?”
“Sim, 70% fica para trás”, confirma o produtor, quase sem alterar a expressão do rosto ou o tom de voz, como se fosse algo a que já estivesse acostumado.
Pois dias melhores podem estar chegando. Nessa semana, a 5.000 km de distância de Boa Vista, durante a feira Expodireto na cidade gaúcha de Não-Me-Toque, o paranaense radicado em Roraima Odacir Henz apertou as mãos e assinou contrato com o importador espanhol Iñigo Rebollo, de Barcelona.
“As frutas têm qualidade maravilhosa. O abacaxi, o mamão e a manga de Roraima são excelentes. Há muito potencial no mercado europeu e vamos aproveitar o marketing de serem frutas tropicais da Amazônia”, sublinha o catalão, que pretende embarcar o mais breve possível 144 toneladas por semana para Espanha e França. A ideia é enviar tudo por avião. “Assim é possível tirar a fruta no momento certo de maturação e oferecê-la ao consumidor em no máximo 48 horas. Isso tem alto valor agregado, será muito bem pago”, assegura Rebollo.
A aproximação entre as partes foi feita pelo superintendente do Ministério da Agricultura em Roraima, Plácido Alves de Figueiredo Neto, que no final do ano passado encontrou o trader espanhol na feira Fruit Attraction, em Madri, e o convidou a conhecer Roraima.
O fato de os produtores pertencerem a uma cooperativa e estarem inseridos em área de abrangência da Zona Franca de Manaus deverá rebater alguns impostos, tornando as frutas ainda mais competitivas. “Hoje vendemos a 50 centavos de real o quilo do mamão. Se eles nos pagarem 50 centavos de euro já será uma enorme valorização”, comemora Odacir Henz.
Apesar de ser o terceiro maior produtor de frutas, o Brasil figura no 23º lugar entre os exportadores. Há cerca de uma semana, o Ministério da Agricultura lançou o Plano Nacional de Desenvolvimento da Fruticultura, que tem um comitê gestor com representantes do governo e da iniciativa privada e que deverá implantar novas regras para o licenciamento de produtos agroquímicos e padronização dos certificados fitossanitários, além de apontar para melhorias em governança, crédito, pesquisa, infraestrutura, logística, processamento, marketing e comercialização.
O desafio é chegar a US$ 2 bilhões em exportações até 2028. O melhor desempenho da fruticultura até agora ocorreu em 2008, quando o País atingiu o recorde de US$ 1 bilhão exportado, marca que espera alcançar novamente neste ou no próximo ano.
A feira Expodireto, em Não-Me-Toque, atraiu representantes de 70 países interessados em fazer negócios com o setor agropecuário brasileiro. Numa mesa próxima de onde ocorreu a negociação entre o espanhol e os roraimenses, dois gaúchos radicados na Bahia discutiam o fornecimento de farelo de soja para compradores da Nigéria e da Tanzânia, enquanto, ao lado, uma representante do Canadá aguardava interessados em parcerias empresariais no ramo de implementos agrícolas.
“Isso é gratificante, porque nossa feira tem um foco muito claro em inovação, tecnologia e negócios”, disse o presidente da Expodireto Cotrijal, Nei César Mânica.
* O repórter viajou à Expodireto a convite da LS Tractor.
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