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E o Brasil está de olho

Furacão pode colocar “deserto” dos EUA como líder na produção de laranja

Diante de uma das melhores safras já colhidas pelo Brasil, o crescimento da demanda internacional ajuda a equilibrar a casa. | Valterci Santos/Gazeta do Povo
Diante de uma das melhores safras já colhidas pelo Brasil, o crescimento da demanda internacional ajuda a equilibrar a casa. (Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo)

Nos últimos anos, produtores de laranja da Flórida, na costa Leste dos Estados Unidos, têm amargado tempos difíceis. Para piorar, a região da Califórnia, que fica literalmente do outro lado do país, na Costa Oeste, ameaça roubar o trono e assumir o posto de maior produtora de frutas cítricas dos EUA, tudo graças aos estragos provocados pelo Furacão Irma em setembro.

É mais um golpe em quem já vem sofrendo há praticamente uma década com o “greening”, a pior doença dos citros e que leva a perdas de 100% nas lavouras.

De acordo com os dados mais recentes do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA, divulgados na última terça-feira, a Flórida deve colher 46 milhões de caixas de laranja nesta safra, um recuo de 33% no comparativo com a temporada anterior. É o pior resultado desde 1945, o que igualaria o desempenho atual da Califórnia, que, apesar do clima árido em parte do território, é o maior polo frutícola norte-americano. A diferença, porém, é que lá, uma caixa comporta 36 kg; já na Flórida, cada caixa pesa 41 kg, o que ainda dá certa folga aos agricultores locais. Mas não muita.

Para Michael Sparks, CEO do Florida Citrus Mutual, grupo que lidera a produção de laranja no estado, a situação ainda pode ficar pior antes de uma eventual retomada. Se for o caso, e a Califórnia de fato assumir o trono de Rainha da Laranja, seria a primeira vez em 73 anos que a posição entre os estados se inverteria.

“Acreditamos que a safra atual só será conhecida depois que todas as frutas forem colhidas”, havia afirmado o próprio Sparks no começo do verão norte-americano, em junho. Os trabalhos de campo começaram em outubro e seguem até setembro de 2018.

Em outubro, a expectativa era de que a colheita na Flórida terminasse, conforme a Citrus Mutual, abaixo até da previsão do USDA, em 31 milhões de caixas, algo em torno de 1,3 milhão de toneladas, ao passo que para a Califórnia a estimativa atual é de 1,7 milhão de toneladas.

Para o diretor-executivo da CitrusBR (Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos), Ibiapaba Netto, é pouco provável que a safra dos EUA, mesmo com o Furacão, feche em número tão baixo como afirmou a empresa norte-americana. “Eles têm toda uma safra para colherem, dá para esperar um pouco. O USDA tem uma pesquisa muito séria”, salienta.

E o Brasil?

Maior exportador mundial de suco de laranja, com 1,94 milhão de toneladas no acumulado de 2017, o Brasil é, por sinal, um dos players que se posicionam para preencher a carência nos mercados dos Estados Unidos, já que a maior da parte da produção da Flórida é destinada à fabricação da bebida. “Os EUA são um mercado importante, representam 20% das nossas exportações”, frisa Netto. “Eles produzem mais ou menos metade das 600 mil toneladas que consomem. Mas esse ano será bem menos, devem produzir 215 mil toneladas de suco. São 80 mil toneladas a mais, disponíveis para as exportações.”

Diante de uma das melhores safras já colhidas pelo Brasil (385,2 milhões de caixas de laranja), o crescimento da demanda internacional ajuda a equilibrar a casa. Ainda assim, para o diretor da CitrusBR, o ideal seria um aumento “orgânico” dos embarques de suco.

“Por mais que seja uma oportunidade de vender mais, acaba sendo ruim, porque o preço sobe na gôndola deles e impacta o consumo, é um efeito negativo, vai matando o mercado”, explica. “Não achamos que é motivo para comemorar, mas faz parte do negócio. O Brasil está absolutamente pronto para suprir qualquer necessidade, mas seria melhor se isso ocorresse em outros termos.”

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