Erradicar a planta doente é a única maneira de frear o avanço do greening, doença que vem dizimando laranjais em importantes estados produtores no Brasil. No Paraná, apesar de o índice de contaminação ainda ser considerado baixo em relação a outros estados, o avanço da doença começa a preocupar. Até o primeiro semestre de 2013, o problema já havia sido detectado em 89 dos 155 municípios produtores de citros no estado, especialmente na faixa entre Umuarama, no Noroeste, e Cornélio Procópio, no Norte do Paraná.
Segundo levantamento de campo da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), cerca de 2% da área com a fruta estão infectados. O próprio órgão reconhece, no entanto, que este porcentual pode estar subestimado. A Adapar tem percorrido as principais pólos produtivos paranaenses para dar orientações aos produtores.
Para o pesquisador Renato Bassanezi, a única maneira comprovadamente eficaz de combate à doença é a erradicação. Ele explica que diversos estudos sobre a evolução da produção em pomares infectados na Flórida, maior estado produtor de laranja dos Estados Unidos, mostram que independente da variedade, os adubos não curam o greening, nem a poda, já que a bactéria causadora da doença domina até a raiz das plantas.
“No primeiro momento, por causa dos nutrientes, a planta fica mais bonita. Mas ela continua infectada, transmitindo a doença. Isso só aumenta os custos da produção, mas não resolve nada”, explica.
O pesquisador salienta ainda que os sintomas da doença aparecem menos no início do inverno, por conta do ciclo natural da planta. “Então, apesar do produtor ter uma sensação inicial de que o adubo funcionou a planta continua doente. Um ano depois ele pode verificar que os sintomas, que apareciam em apenas um ramo, será visível em 2/3 da planta”, acrescenta.
Nem mesmo o aumento da aplicação de inseticida protege totalmente a planta da bactéria. Além disso, o uso exacerbado de veneno aumenta a quantidade de resquícios do pesticida nas frutas, ou seja, além de ineficiente, o manejo afasta o consumidor.
Trabalho conjunto
O coordenador de Sanidade da Citricultura da Adapar, José Croce Filho, compara o avanço do greening à proliferação do mosquito da dengue. Assim como ocorre com o Aedes aegypti, uma pessoa que não toma os cuidados necessários para eliminar os pontos de infestação pode cultivar o mosquito que irá picar o vizinho cuidadoso. “O problema do greening é ainda mais preocupante porque quando falamos em vizinho aqui, temos que considerar um raio de 10 quilômetros que é a distância média que o psílideo consegue migrar.”
Outro problema são os pomares caseiros que não recebem acompanhamento adequado de técnicos e especialistas. Assim como as plantas das propriedades rurais, os pomares cultivados isoladamente em quintais também podem estar contaminados pela bactéria do greening. O inseto que se alimentar dessa planta poderá carregar a bactéria para outros pomares da região.
Depois de observar um rápido avanço da doença no campo, o produtor Luís França, de Alto Paraná (Noroeste do estado) decidiu procurar ajuda de técnicos da região. Ele seguiu a orientação especializada e exterminou os pés de laranja doentes. Na tentativa de buscar uma solução para o problema, ele chegou a visitar propriedades na Flórida. “Com tudo o que a gente já viu e recebeu de orientação não há dúvidas que este seja o manejo mais eficaz.”
O alerta a França ocorreu após inspeção técnica em dezembro de 2012, quando 0,4% dos 20 mil pés que têm em sua fazenda estavam contaminados. Seis meses depois, o índice pulou para 3,7%, mais alto do que o oficial da Região Noroeste do Paraná, que é de 2%.
Efeito
Praga pode fazer produção despencar
O futuro da citricultura depende do que for decidido neste momento pelos produtores, avaliam as entidades que atuam no setor. “É hora de o produtor decidir se quer mesmo investir ou se vai abandonar a atividade”, sentencia o presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Inácio Kroetz. O engenheiro agrônomo da cooperativa Cocamar, Sérgio Lemos, acredita que, apesar do crescente avanço da infestação do greening nos pomares do Paraná, o índice ainda é baixo e passível de ser revertido. Ele lembra, contudo, das progressivas quedas de produção americana e paulista – até então, os maiores produtores contra o qual o Paraná concorria – como uma oportunidade de crescimento para a exportação paranaense.
Na última safra americana, a expectativa era colher 152 milhões de caixas, mas foram colhidas 138 milhões. Além de geada e seca, boa parte do volume foi perdida para a praga da laranja. O pesquisador Renato Bassanezi afirma que a tendência é que a produção da fruta caia ano a ano com o avanço da doença tantos nos Estados Unidos como em São Paulo. No estado do Sudeste, a incidência do greening era de 7% em 2012. “Este ano, o dado ainda não foi divulgado, mas acreditamos que já seja superior a 14%”, estima.