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Película ‘botox’ promete dar novo brilho e mercado a frutas brasileiras

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(Foto: Divulgação/)

Frutas colhidas há mais de um mês com aparência e frescor de produtos recém-saídos da propriedade. Não é enganação do consumidor, mas trata-se de uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio de Janeiro, que está possibilitando a abertura de novos mercados para a fruticultura brasileira.

Quem for a Portugal, no próximo verão europeu, por exemplo, poderá consumir água de coco como se estivesse no Brasil. A partir de junho cerca de 500 mil cocos verdes do Nordeste vão aportar no país europeu graças à técnica da película “botox” da Embrapa, que prolonga em até quatro vezes a vida útil do produto.

Pesquisado há mais de uma década, o envolvimento dos frutos com uma película comestível evita a degradação de açúcares, minerais e vitaminas, ao mesmo tempo em que mantém as características sensoriais e estéticas (textura, sabor e beleza) que agradam ao consumidor.

“Estamos falando de um revestimento que o próprio produtor pode fazer em seu galpão, com custo mais baixo, sem depender de soluções tecnológicas de grandes indústrias multinacionais. E a maioria das películas pode ser feita com produtos naturais, sem qualquer restrição de uso”, diz o químico Antonio Gomes, integrante da equipe que estuda as películas comestíveis desde 2005.

As películas são desenvolvidas pela Embrapa especificamente para cada fruta, conforme demanda do setor produtivo. Já foram produzidas películas para coco verde, goiaba, manga, caqui e palmito de pupunha. No caso do palmito, a vida útil sobe de 7 para 20 dias, enquanto a goiaba fica até um mês com aparência e sabor de nova. Em média, a técnica triplica o tempo de “juventude” da fruta.

Segundo Antonio Gomes, na medida em que a aplicação das películas for sendo popularizada, vão cair as barreiras para a circulação das frutas brasileiras, tanto dentro das diferentes regiões do país, quanto nas vendas ao exterior. “O caqui de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, hoje só é vendido em regiões próximas da produção. Mas usando tecnologia desse tipo, será possível mandar para o Norte e o Nordeste do país de caminhão, ou seja, o consumidor terá acesso a esses produtos e com a qualidade preservada”.

“Expandida, essa tecnologia abre completamente a possibilidade de chegar a outros mercados. Os Estados Unidos são um mercado praticamente inexplorado pelo coco verde brasileiro. Quem não gostaria de tomar uma água de coco no Central Park de Nova York?”, pergunta o pesquisador.

O recapeamento das frutas é feito com alginato, produto utilizado na indústria de protetores dentais, e também com a carboximetilcelulose (CMC), extraída da madeira, e o amido. “A mistura pode ser feita em baldes de aço inox ou em algum tanque. É simples e barato. Para se ter uma ideia, a película do coco custa no máximo 10 centavos por coco”, aponta Gomes. Um custo-benefício para lá de que razoável quando se leva em conta que o coco verde alcança no verão europeu um preço quase 10 vezes melhor do que no Brasil, na época de inverno (1 euro contra 45 centavos de real).

Os cocos da variedade anão-verde, que já começaram a ser exportados para a Europa, são produzidos no Polo de Fruticultura do Vale do São Francisco em Petrolina (PE). O empresário Edivânio Domingos, da Fazenda Coco do Vale, diz que a película ajudou a ganhar novos clientes em São Paulo e outros estados brasileiros, por causa do valor agregado.

“É uma tecnologia espetacular porque é de baixo custo e requer pouca mão-de-obra. São apenas três etapas: higienização, imersão na solução filmogênica e secagem. Conseguimos ampliar a vida útil do coco verde para mais de 40 dias, viabilizando sua exportação para países europeus como Portugal, Bélgica e Holanda”, conta Domingos.

“O revestimento atua como uma barreira física e reduz o metabolismo do fruto ao diminuir a respiração, a atividade enzimática, a degradação de açúcares, minerais e vitaminas, mantendo as características sensoriais e garantindo a qualidade microbiológica do fruto e da água, ou seja, conservando-o por mais tempo”, afirma Josane Resende, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que realizou o estudo pioneiro em 2007.

Com redução no orçamento para pesquisas, a Embrapa pretende desenvolver novas películas a partir do interesse do setor privado e instituições. “A empresa participa com uma parte do custeio da pesquisa. Além de a tecnologia já sair pronta para ser utilizada no setor produtivo, é uma forma de estreitar parcerias, inclusive para projetos futuros”, aponta Antonio Gomes.

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