Os fundos de investimentos, um dos principais balizadores do mercado internacional de commodities agrícolas, decidiram mudar totalmente sua posição nos últimos três meses na Bolsa de Chicago. Depois de adquirir quase 300 mil contratos de soja até o final de agosto, o equivalente a 40 milhões de toneladas (mais de metade da safra brasileira), os maiores especuladores da atualidade liquidaram cerca de 60% dos papéis que haviam comprado, derrubando as cotações da oleaginosa. De agosto até novembro, os fundos se desfizeram de 180,7 mil papéis ou 24,6 milhões de toneladas do produto. Isso significa que deixaram de circular no mercado da soja mais de US$ 11 bilhões. Cada contrato tem 136 toneladas e vale aproximadamente US$ 63 mil, considerando o preço médio praticado no período (US$ 12,6 por bushel, ou US$ 27,72 por saca).

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A fuga desses investimentos é atribuída à crise econômica que afeta especialmente a Zona do Euro. Na medida em que o fenômeno se agrava nos países da Europa, os "traders" passam a sair de ativos voláteis, de risco, como é o caso das commodities, e entram em mercados mais seguros, explicam analistas. "Quando os fundos perdem dinheiro com ações, por exemplo, acabam liquidando ativos onde estavam obtendo lucro. É o caso das commodities", completa Glauco Monte, analista em gerenciamento de riscos da FC Stone, de São Paulo. A mudança no comportamento do grupo de negociantes, porém, tem feito a soja perder valor em Chicago, onde são formados os preços para o mundo. A queda no trimestre já ultrapassa os US$ 5 por saca. Quando os especuladores ainda mantinham sua posição fortemente comprada, em agosto, uma saca de soja valia US$ 30 nos Estados Unidos. A cotação atual, contudo, é de US$ 25 por saca.

No Brasil, apesar de a moeda norte-americana ter se valorizado, os preços da soja também apresentam recuo. Em Cascavel (Região Oeste), o produto foi cotado a R$ 43,50 ontem, contra R$ 48,50 oferecidos aos agricultores em setembro. "Se não fosse o dólar, o tombo seria ainda maior", avalia Monte.

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Tendência

Apesar da desvalorização da oleaginosa no mercado interno, especialistas no setor acreditam que o cenário ainda é positivo. Ao considerar US$ 11 por bushel um importante suporte psicológico, Luis Fernando Gutierrez, analista da Safras e Mercado, traça o pior dos cenários possíveis. "Se a situação na Europa continuar ruim e o Brasil consolidar uma boa colheita em janeiro [o que ampliaria a oferta do produto], acredito que a soja pode buscar os US$ 10,50 em Chicago."

O analista da FC Stone concorda que as perspectivas atuais são favoráveis para a agricultura, ainda que em um momento turbulento, mas acredita que o mercado não voltará a oferecer R$ 50 por uma saca de soja no Brasil tão cedo. "Para alcançar esse patamar, o câmbio teria de estar em R$ 1,93 e a cotação em Chicago acima dos valores atuais", projeta Monte.

Exportações seguem em alta, por enquanto

José Rocher

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A queda verificada nos preços internacionais da soja ainda não afetou as exportações brasileiras do complexo que envolve grão, farelo e óleo — que são contratadas com meses de antecedência. O quadro atual do mercado internacional deve se refletir nos embarques brasileiros – e na renda das exportações – do próximo ano. Como os negócios cresceram, uma tendência de queda anuncia o alerta de que "quanto maior o salto, maior o tombo".

De janeiro a outubro, as exportações nacionais do complexo soja cresceram 4,3% em volume e saltaram 35,3% em valor na comparação com o mesmo período do ano passado – atingindo 43,37 milhões de toneladas e US$ 21,42 bilhões. No Paraná, os índices de crescimento foram de 3,28% e 30,47%, respectivamente – alcançando 6,3 milhões de toneladas e US$ 2,33 bilhões, conforme relatório do Ministério da Agricultura.

Esses números seguraram o déficit da balança comercial paranaense, analisa a economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) Gilda Bozza. As exportações do agronegócio como um todo cresceram 28% (de US$ 8,38 bi para US$ 10,75 bi) sobre o resultado de janeiro a outubro de 2010. A participação do setor nas exportações totais do estado foi de 74%, aponta. Considerando todos os setores, o estado exportou 23% mais, arrecadando US$ 14,58 bilhões. Porém, as importações – num ano de real valorizado – somaram US$ 15,33 bilhões, ou seja, houve déficit de US$ 756 milhões, que poderia ser maior se os embarques do complexo soja não tivessem crescido. "O dólar mais baixo favorece as importações, notadamente de produtos de maior valor agregado", aponta Gilda.

Contrariando as estatísticas do país, Mato Grosso, que é o maior produtor nacional de soja, reduziu os embarques em 2,82%, para 8,28 milhões de toneladas, em relação a 2010 (jan-out). A queda foi de 20,64% na compração com 2009. Esse recuo ainda é reflexo dos resultados dos meses de fevereiro, março e maio deste ano, que foram menores que os alcançados nos mesmos meses de 2010.

Mato Grosso está vendendo mais ao mercado interno do que de costume. Mesmo assim, a redução da demanda chinesa preocupa os produtores mato-grossenses. Neste momento, com os preços em queda em Chicago, eles adotam posição de cautela, com redução no ritmo de negócios, que vinham surpreendendo até outubro.

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Conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), 99% da safra passada e 52% da produção esperada para 2011/12 no estado já foram vendidos. O último dado disponível é o do décimo mês deste ano. Em outubro de 2010, este índice era de 45%. Porém, se a comercialização estacionar, logo a situação se inverterá. Em novembro do ano passado, o porcentual das vendas chegou a 57%.