Orlândia (SP) - Nos quatro estados brasileiros líderes em cana-de-açúcar, o cultivo de grãos resiste ao avanço da cultura, conforme agricultores e representantes de empresas e co-operativas entrevistados pela Expedição Safra RPC. Eles disseram que a soja a custo reduzido evitou a transformação de centenas de hectares em canaviais.

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A cana ganhou 530 mil hectares nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Goiás no último ano, conforme a Com­panhia Nacional de Abas­teci­mento (Conab). A maior ampliação foi registrada em São Paulo – de 3,8 para 4,2 milhões de ha (340 mil ha a mais). O Paraná deu 100 mil ha à cultura, que agora tem 622 mil ha. Mesmo assim, perdeu o segundo lugar em área plantada para Minas, que tem 648 mil ha de cana. Goiás, por sua vez, cultiva 548 mil ha de cana. Os 530 mil hectares eram de pastagens e culturas menos expressivas, como arroz e feijão.

A região da cana registrou, sim, redução no milho. Porém, nos quatro estados a ampliação na soja foi proporcional ou até maior, compensando o recuo no cereal. Os porcentuais de redução nos custos, que estimularam a produção agrícola, foram de 20% para a soja e 30% para o milho.

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Na região de cobertura da cooperativa Carol, com sede em Or­­lândia (SP), a soja evoluiu de 116 para 123 mil hectares, um aumento de 6%. O milho tem área menor que a soja, mas se manteve com 15 mil hectares. A produtividade também deve crescer, afirma o agrônomo Filipi Belloni, coordenador de Grãos da Carol. A expectativa é que a oleaginosa evolua de 2,7 para 2,9 mil quilos por hectare e o milho de 7,5 para 9 mil kg/ha. Os custos dos produtores caíram até 40% na soja e 30% no milho, conta o agrônomo Fernando Nonino – para a faixa de R$ 1,05 e 1,2 mil, respectivamente.

A região da Carol é considerada a melhor do Brasil para a cana-de-açúcar e a laranja, mas os grãos têm produtores tradicionais como Antônio Ortigoro, que cultiva 700 hectares em Guaíra (SP). Às margens do Rio Sapucaí, ele usa irrigação para manter média de 2,8 mil quilos de soja por hectare. A oleaginosa avançou de 60% para 90% da área e o cereal caiu de 40% para 10%, relata.

A redução no custo de produção da soja foi de R$ 1,7 para R$ 1,1 mil na região de Uberlândia (MG), conta João Carlos Semenzini. Ele manteve a oleaginosa em 750 hectares. O milho, usado só para silagem, continua com 50 hectares em sua propriedade.

Em Goiás, a simples substituição do milho pela soja é a principal tendência nas lavouras de grãos. O produtor Tiago Zanella, de Catalão, por exemplo, reduziu a área do cereal de 700 para 500 hectares. No entanto, dedicou os 200 ha que sobraram para a oleaginosa, que agora tem 1,7 mil ha. Manteve a produção mesmo sem aproveitar a redução nos custos. "Comprei antecipado, quando os preços ainda não tinham baixado tanto", lamenta.