O drama dos agricultores baianos com a lagarta Helicoverpa continua. Após o inseto ter devastado parcela significativa das lavouras de soja, milho e algodão no estado, ainda há impasse no combate a praga. Problemas na autorização para o uso do agrotóxico liberado emergencialmente pelo governo atrasam a resolução do problema.
De acordo com o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Julio César Busato, após atingir a safra de milho e soja no verão, os ataques prejudicam agora o cultivo do algodão. Ele relata que a soja deve render 38 sacas por hectare, o milho 125 sacas/ha e o algodão 230 arrobas/ha. Normalmente, complementa, a produtividade do trio no oeste baiano é de 55 sacas/ha na oleaginosa, 160 sacas/ha no cereal e 280 arrobas/ha, respectivamente.
Após o setor pedir a intervenção da Presidência da República para o problema, foi liberada a importação do princípio Benzoato de Emamectina para as pulverizações. Busato explica que o produto já foi comprado, mas um impasse entre o Ministério da Agricultura e o Ministério Público está impedindo as aplicações. "Eles vão ter que se acertar para que o agricultor possa utilizar o produto", argumenta. Cerca de 100 toneladas do defensivo estão no estado, com uma parcela localizada em regiões estratégicas para aplicação e outra parte retida no porto.
O vice-presidente da Aiba, Celestino Zanella, diz que cada dia de indefinição aumenta o prejuízo, o que reforça a pressa do setor em obter a liberação. "Se a liberação sair hoje, a gente aplica amanhã. Não é uma questão urgente, é urgentíssima", diz.
Além dos entraves burocráticos, existe impasse sobre qual espécie da lagarta tem sido a responsável pelo dano. Inicialmente os pesquisadores pensaram que se tratava da Helicoverpa zea, mas depois concuiu-se que a vilã era a Helicoverpa armigera. Agora, contudo, uma nova bateria de estudos aponta que há casos de ataque feito pelas duas. Um grupo de estudos que inclui a Embrapa e a Adab (Agência de Defesa Agropecuária Baiana) tenta dimensionar o problema e avaliar qual é a participação da dupla no problema.
Apesar dos prejuízos, Zanella diz que no longo prazo os efeitos do ataque serão benéficos. "Isso vai fazer com que a gente evolua no controle biológico", relata. Para a próxima safra será introduzido um programa que visa reduzir o impacto da praga. Destruição da pupa das lagartas, vazio sanitário, e um calendário de plantio estão entre as medidas que serão adotadas. Neste ano, estados como Mato Grosso e Paraná também registraram focos do inseto.