Três anos depois de ser identificada pela primeira vez no Brasil, a Helicoverpa armigera chega aos Estados Unidos. Originária da Austrália, a lagarta foi detectada em diversos países da Europa, Ásia, África e Oceania, mas até agora sua presença ainda não havia sido registrada em solo norte-americano. A primeira ocorrência em lavoura comercial foi confirmada pelo Serviço de Inspeção Sanitária (APHIS, na sigla em inglês) do Departamento de Agricultura dos EUA (Usda) na última quinta-feira (30).
Em comunicado, o órgão anunciou que duas lagartas foram encontradas em armadilhas em uma fazenda de tomate e uma terceira foi dectada em campo vizinho no município de Bradenton (Manatee County), na Florida. Uma área de 2,3 mil hectares ao redor da região do foco está sendo monitorada pelo governo norte-americano para determinar se trata-se de uma ocorrência isolada.
Como a ‘lagarta do velho continente’ (OWB, na sigla em inglês), como é conhecida nos EUA, foi detectada em uma fazenda de tomate, a indústria de vegetais é o setor que estaria em risco imediato, mas a alta capacidade de dispersão e multiplicação da Helicoverpa armigera deixa os produtores de grãos norte-americanos em alerta.
Um estudo publicado pela Universidade de Minnesota em março indica que 65% das lavouras norte-americanas estariam suscetíveis à praga. "O valor anual das culturas que estariam expostas à H. armigera totalizaram cerca de US$ 78 bilhões, sendo que US$ 843 milhões estão em regiões com condições climáticas consideradas ideais para a proliferação da lagarta", diz o documento.
Especialistas têm alertado para uma ‘invasão continental’ da OWB nos EUA desde que ela foi encontrada em Porto Rico, em setembro de 2014. Agora, as atenções se voltarão para o rastreamento da propagação da praga dentro do país. "Acredito que o risco maior neste momento seja na Região Sudeste, por causa dos ventos que sopram da Flórida em direção às Carolinas", declarou ao site DTN o pesquisador David Kerns, entomologista da Universidade de Louisiana. Ele avalia que se tudo o que foi necessário para trazer a praga de Porto Rico até a Flórida, transpondo o Oceano Atlântico foi uma tempestade tropical, não seria difícil para a Helicoverpa armigera migrar da região do Golfo do México para litoral e para o Centro-Sul do país.
Extremamente agressiva, a lagarta ataca principalmente as estruturas reprodutivas das plantas e se multiplica muito rapidamente. Na fase adulta (mariposa), a Helicoverpa armigera pode voar até mil quilômetros em três dias. Além disso, tem grande capacidade de sobrevivência, potencial de desenvolvimento de resistência a inseticidas e facilidade de adaptação a diferentes ambientes, climas e sistemas de cultivo.
No Brasil, a lagarta foi identificada pela primeira vez na safra 2012/13, quando um grande surto na Bahia causou perdas de até 80% da produção estadual de algodão. Desde então, foram confirmados ocorrências em várias outras culturas como soja, milho, tomate, feijão, sorgo, milheto e trigo no Maranhão, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Paraná. Em todo o mundo, os custos anuais com controle e perdas de produção chegam a US$ 5 bilhões, de acordo com estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG), em parceria com a Fundação Mato Grosso.