Durante a pré-história, na medida em que os homens passaram a se agrupar em pequenas aldeias, eles passaram a praticar a agricultura sazonal. Mas novos estudos indicam que o objetivo não era produzir pão ou outro alimento sólido: era fazer cerveja.
A teoria já tem dois estudos independentes que levam a essa conclusão. “A ideia de que os homens se tornaram sedentários para expandir o consumo de cerveja está entrando nos estudos científicos”, afirma Ricardo Rugai, historiador da cerveja, doutor em história econômica pela USP e sommelier.
A primeira pesquisa, de 2008, foi apresentada pelo historiador natural Josef H. Reichholf, no livro ‘Por que os homens se tornaram sedentários’. O segundo estudo que relacionada a história da cerveja à origem da agricultura é da jornalista científica Karin Bojs.
História da cerveja no Brasil e na América
Fósseis de cerveja
No livro ‘Minha grande família europeia’, a pesquisadora destaca que a coleta de grãos, como trigo e cevada, sempre foram importantes para a alimentação humana, o que incluía o uso para a fabricação de cerveja, muito utilizada em rituais. “O álcool entrou em nossas vidas como fonte de prazer, e como forma de animar as celebrações”, explica trecho da obra.
Como era preciso grandes quantidades de grãos para produzir a bebida, esse teria sido um elemento motivador para a agricultura. E sobrou cerveja daquela época. “Existem evidências que a história da cerveja precedeu o pão”, diz Rugai. Descobertas arqueológicas de fosseis de alimentos com vestígios de enzimas dentro de copos e bacias pré-históricos confirmam a fabricação de cerveja em uma região da Turquia.
Naquele período, a Era do Gelo tinha acabado recentemente (há cerca de 12 mil anos) , o que facilitou o cultivo de grãos, e consequentemente a produção da cerveja. Há fósseis da bebida estimados em 10 mil anos antes de Cristo, enquanto os de pão são estimados em 6 mil anos, informa o doutor.
Revolta da cerveja
A cerveja já causou revoltas populares. A Alemanha inventou a lei da pureza em 1516 e restringiu o uso de ingredientes em água, cevada e lúpulo. “Isso foi feito para reservar cerveja com centeio e trigo para a nobreza alemã”, diz Rugai. Foi uma época em que faltou trigo, inclusive, para o ‘pão alemão de cada dia’.
História, cerveja e agricultura
“A teoria dos pesquisadores [Reichholf e Bojs] é que o ser humano buscou ampliar a produção de cerveja e, então, passou a desenvolver técnicas agrícolas para todo e qualquer tipo de cereal, como milho, cevada, centeio e trigo. Todos esses cereais eram utilizados tanto para fazer pão quanto para a cerveja”, explica Rugai.
Mas havia um problema a ser solucionado: a conservação da cerveja. “O lúpulo só passou a ser utilizado a partir do século 12, na Alemanha. Antes, para dar sabor ou para prolongar a conservação foram misturados outros ingredientes, como mel, cravo, gengibre. Era uma miscelânea”, exemplifica o historiador brasileiro.
História da cerveja no Brasil
E na América, nossos ancestrais não consumiam a preciosidade amarela? “Havia fermentados alcoólicos de milho fabricados pelos indígenas que podem ser considerados cerveja”, explica o historiador da cerveja Ricardo Rugai.
Além disso, no período colonial, a cerveja com ‘selo europeu’ chegou ao Brasil com as invasões holandesas, no século XVII, quando a Holanda dominou parte do Nordeste. Quando foram expulsos pelos portugueses, faltou cerveja por mais de 50 anos. O retorno definitivo veio com a família real, que trouxe toneis de cerveja inglesa, em 1808, na época a cerveja ainda era considerada um alimento.