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Imposto da terra fica na terra

Uma lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de 2005 poderá representar um pequeno reforço no caixa das prefeituras brasileiras, principalmente aquelas de municípios onde predomina a economia rural. A Lei 11.250/2005 transfere, de maneira facultativa, aos municípios a arrecadação total do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), desde que eles assumam e garantam as estruturas de recebimento e fiscalização da cobrança do tributo. Até agora, cada município recebe metade do ITR arrecadado em seu território – a outra metade vai para a União.

Com a lei, o governo federal pretende aumentar a arrecadação de um imposto que historicamente tem baixa receita por causa de sonegação, subnotificação e sub-avaliação das terras, que acabaram tributando excessivamente o minifúndio e "isentando" boa parte dos grandes proprietários. A distorção acontece principalmente porque é o dono da terra quem informa o seu valor de mercado para a cobrança do imposto. No ano passado, a arrecadação total do ITR no Brasil foi de R$ 300 milhões – praticamente o mesmo valor que a prefeitura de Curitiba planeja cobrar de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em 2006. Os 399 municípios paranaenses, que somam 400 mil propriedades rurais, receberam apenas R$ 10 milhões de sua cota do ITR em 2005.

Na avaliação de Luiz Sorvos, presidente da Associação dos Municípios do Paraná, o recebimento do total do ITR fortalece a autonomia municipal, mas não resolverá as dificuldades financeiras das prefeituras. "Já investimos muito mais que isso em conservação de estradas e solos, por exemplo", afirma Sorvos, prefeito de Nova Olímpia (Noroeste) pelo PDT. Segundo ele, 70% dos municípios paranaenses têm sua economia dependente da agropecuária. A Constituição de 1988 destina aos municípios impostos essencialmente urbanos (IPTU e Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), prejudicando os de economia rural e tornando-os dependentes de repasses de recursos federais e estaduais.

José Guilherme Cavagnari, consultor para assuntos fundiários da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), diz que as prefeituras terão que avaliar o custo-benefício de assumir o ITR. "É preciso esperar a Receita Federal definir as regras para a transferência dessa competência, mas acredito que os pequenos municípios não terão condições de assumir a tarefa", afirma Cavagnari.

Uma das prefeituras que deverá abrir mão da cobrança e fiscalização do ITR é Braganey (Oeste do estado). Com metade de seus 5 mil habitantes vivendo na zona rural, o município arrecadou apenas R$ 17,4 mil de ITR em 2005. Mesmo com a possibilidade de dobrar esse valor, o secretário municipal de Finanças, Nevair Pereira Brandão, considera a iniciativa antieconômica. "Não vale a pena, porque teríamos que manter uma estrutura só para isso."

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