Depois de o governo de Cris­­tina Kirchner restringir a entrada de máquinas agrícolas brasileiras na Argentina, no início do ano passado, as indústrias instaladas no Brasil achavam que a situação seria flexibilizada com o tempo. Até agora, no entanto, isso não ocorreu. O setor está se voltando ao mercado interno para manter e expandir seus negócios.

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Sem contar com seu maior cliente externo há mais de um ano, o Brasil vem reduzindo as exportações de máquinas agrícolas. De janeiro a março de 2012, o país deixou de embarcar mais de 100 colheitadeiras, item mais valorizado da pauta do setor, conforme levantamento da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos e Automotores (Anfavea). No primeiro trimestre deste ano, foram vendidas 648 máquinas desse segmento ao mercado internacional, contra 750 registradas no ano anterior.

No acumulado de 2011, o comércio também foi mais fraco do que em 2010 – considerado o melhor de todos os tempos –, especialmente de tracionados. Ao todo, o Brasil exportou 15,07 mil tratores e colheitadeiras entre janeiro e dezembro, ante 16,43 mil unidades vendidas em 2010.

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Para este ano, as empresas fabricantes de tratores e colheitadeiras esperam ma­­nutenção ou crescimento nas vendas dos equipamentos para o campo, disseram representantes das gi­­gantes do setor durante a Agrishow, maior evento de tecnologia para o campo do Brasil, realizado na semana passada em Ribeirão Preto (interior de São Paulo). O suporte para esse cenário vem da valorização das commodities agrícolas, especialmente da soja, que alcança os R$ 60 por saca.

"Temos tudo para bater os números do ano passado, porque os preços das commodities estão valorizados e houve redução de 1% na linha de financiamento PSI [Programa de Sustentação do Investimento, do BNDES], que agora está em 5,5% ao ano", disse Luiz Feijó, gerente comercial da New Holland em relação à expectativa de vendas para a feira, considerada o principal termômetro do mercado de maquinários.

"Meu número para venda de tratores em 2012 está entre 52 mil e 53 mil unidades. Não existe motivo para acreditarmos em um mercado em declínio", avaliou Paulo Baraldi, diretor comercial da Valtra, do grupo Agco. "Além do PSI, o relançamento dos programas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) devem voltar a agitar o mercado", complementou Carlito Eckert, diretor da Massey Ferguson.

O ânimo dos fabricantes para o ano corrente está refletido no número de produção da indústria de máquinas. Nos três primeiros meses deste ano, os parques fabris produziram cerca de mil unidades a mais, entre tratores e colheitadeiras, em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 18,508 mil, ante 17,5 mil fabricadas no primeiro trimestre de 2011. Nas entrevistas aos jornalistas que participaram da Agrishow, os executivos descartaram reduzir a produção, bem como problemas como demissões ou cortes em investimentos. O problema preocupa estados como Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná, que concentram indústrias do setor.

Empresa prevê ‘exportação zero’ no ano que vem

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Se de um lado os agricultores comemoram a valorização da moeda norte-americana e também da soja, do outro, a indústria de implementos e máquinas reclama que a cotação do dólar tem levado o setor à desindustrialização, além de aumentar as cotas de importação dos equipamentos de outros países, especialmente dos Estados Unidos.

Dona de 30% do mercado de pulverizadores no Brasil e de um faturamento anual superior a R$ 200 milhões, a paranaense Montana, que possui fábrica com mais de 500 funcionários em São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), é uma das empresas que vem sofrendo com os altos custos de produção e perdendo competitividade no exterior.

"Estamos em um ambiente agrícola bom, mas ao mesmo tempo sofremos com o câmbio. O que temos feito é entregar para o agricultor o pulverizador e o trator mais caros do mundo", disse o diretor-presidente da empresa, Gilberto Zancopé. Ao mencionar que os custos de produção chegam a ser 27% mais baratos na Argentina do que no Brasil, o executivo disse que está se preparando para importar cada vez mais.

"Já chegamos a exportar 25% da nossa produção. Nosso sonho era chegar a 33% e estávamos caminhando para isso. Com a mudança estrutural no câmbio brasileiro, perdemos muitos mercados lá fora, na Ásia e na África", relata. Hoje as exportações da empresa, em torno de 10% das vendas, dependem da Argentina. "Não acreditamos que vamos voltar a 25%. Para o ano que vem, trabalhamos com um orçamento de 0% de exportação", revela Zancopé. Questionado sobre uma cotação ideal desejada pela indústria, o presidente da Montana é enfático. "Éramos felizes [na exportação] com o câmbio a R$ 2,20".

O caso da fábrica paranaense se enquadra em um cenário de importações cada vez mais elevadas, traçado pela Associação Brasileira de Máquinas e Implementos (Abimaq). A entidade aponta que, no primeiro trimestre deste ano, o valor correspondente à compra de máquinas e implementos agrícolas de outros países quase dobrou (cresceu 96%) em relação ao mesmo período do ano passado, chegando a US$ 195,4 milhões, contra menos de US$ 100 registrados em 2011.

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As exportações, por outro lado, cresceram pouco mais de 10% somando cerca de US$ 260 milhões, contra US$ 235 milhões alcançados no ano passado."Se a importação continuar crescendo nesse ritmo, vamos nos equiparar à produção interna. A indústria em geral ‘chora’ porque o câmbio é artificial. Se corrigirmos a inflação dos últimos oito anos, o dólar teria que estar o dobro do que está hoje. Isso faz a indústria perder competitividade", reclama Carlos Casale, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos da Abimaq.

O jornalista viajou a convite do pool de imprensa da Agrishow.