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O gerente Laércio Lenz prefere testar novas variedades antes de elevar apostas | Josua© Teixeira/gazeta Do Povo
O gerente Laércio Lenz prefere testar novas variedades antes de elevar apostas| Foto: Josua© Teixeira/gazeta Do Povo

A demanda pela soja Intacta RR2 PRO no mercado brasileiro está abaixo do esperado pelo setor. Após dois anos em testes, a tecnologia foi colocada à venda nesta safra com a perspectiva de que haveria disputa acirrada pelos de 2,8 milhões de sacas disponíveis.

Empresas que estão licenciadas a vender a semente confirmam que o interesse foi fraco e que podem ter prejuízo com a Intacta. Mesmo assim, as apostas na semente continuam, havendo expectativa de que a participação de mercado será maior no longo prazo.

A possibilidade de obter produtividade acima da média e o reforço no controle de lagartas foram os principais argumentos adotados pela Monsanto, detentora da tecnologia, para justificar o valor de R$115 por hectare para quem comprar a nova semente. A empresa concentra apostas na Intacta, sobretudo após abrir mão da cobrança pelos direitos da versão anterior, a soja RR1, que estava sob discussão judicial.

Ao todo foram lançadas 38 variedades da Intacta, com potencial para ocupar até 2,5 milhões de hectares, informa a companhia. Isso significa que opção poderia representar até 8% das lavouras, índice que terá de ser reduzido.

O leque amplo de opções e a promessa de 10% de aumento na produtividade não foram suficientes para garantir a demanda prevista, confirma Marcelo Bohnen, gerente de Marketing e Licenciamento da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), de Cascavel (Oeste). “Real­­mente as vendas ficaram abaixo do que se esperava. Produzimos mais Intacta do que vendemos.” A empresa lançou sete cultivares, com características adequadas para cobrir “de 70% a 80% do território nacional”, destaca.

No campo, o relato mostra que as variedades de Intacta foram consideradas menos adaptadas que as tradicionais. “A área da Intacta é pouco expressiva, pois não há cultivares específicas para a região”, aponta Rafael Furlanetto, técnico da Cocamar, de Maringá (Norte). “Estamos pedindo que os cooperados tenham cautela com a nova tecnologia”, complementa Marcelo Sumiya, gerente de assistência técnica da Coamo, de Campo Mourão (Centro-Oeste).

Os agricultores que optaram por semear a nova soja adotam estratégia conservadora. Na área administrada por Laércio de Oliveira Dias, em Maringá, a Intacta vai ocupar 10% dos 70 hectares recém-semeados para a oleaginosa.

Nos Campos Gerais, as cooperativas concentram os testes na Fundação ABC, fazendo com que a área de Intacta “seja irrisória”, indica Márcio Copacheski, gerente de negócios agrícolas da Castrolanda. “Os produtores vão aguardar o desempenho das primeiras linhas. Quando a soja RR1 foi lançada não foram as primeiras cultivares que emplacaram”, aponta.

“Uma parte das sementes já foi descartada e o prejuízo foi grande para quem produziu e multiplicou. Mas vamos continuar apostando na Intacta”, afirma Bohnen. O interesse também pode ser confirmado em regiões sementeiras como a de Abelardo Luz, no Oeste de Santa Catarina. Os técnicos e produtores relatam que 40% das sementes produzidas neste ano – para plantio em 2014/15 – são da nova tecnologia.

Semente convencional pode manter participação

A presença da soja Intacta no mercado brasileiro não representa, necessariamente, ampliação da área das sementes transgênicas. Os produtores e técnicos ouvidos pela Expedição Safra afirma que a tendência é de migração nas áreas já ocupadas com sementes RR1, tolerantes ao glifosato.

Conforme levantamento da Expedição Safra Gazeta do Povo, na safra 2012/13 as plantas geneticamente modificadas ocuparam 89% da área dedicada à oleaginosa no país, índice equivalente a 27,5 milhões de hectares. Esse indicador será atualizado ao fim do plantio desta temporada.

A Monsanto, detentora da tecnologia, afirma que o teto para a Intacta corresponde a 80% da área hoje ocupada pela soja RR1. A previsão se deve ao fato de que a nova variedade exige refúgio correspondente a 20% da área cultivada, para garantir um controle eficiente das pragas.

Na Justiça

Foi revogada na última semana a liminar que proibia a Monsanto de exigir condicionantes para comercializar a soja Intacta RR2 PRO em Mato Grosso. A decisão havia sido tomada em caráter antecipado pelo juiz Alex Nunes de Figueiredo, da Vara Especializada de Ação Civil Pública e Ação Popular de Cuiabá, devido a uma ação movida pelo Sindicato Rural de Sinop (Médio-Norte).

Com essa decisão de Fi­­­­gueiredo, a empresa não podia exigir a assi­­­natura do “Acordo de Licenciamento de Tecnologia e Quitação Geral” ou do “Acordo de Licen­­­ciamento de Tec­­­nologia”, que estabelecem as regras para a compra da Intacta. Os contratos já assinados também eram considerados inválidos.

Com a revogação, fica restabelecido o acordo firmado entre a Monsanto e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) no final de julho. Os agricultores que desistirem da ação que questiona o pagamento de royalties da soja RR1 devem assinar o “Acordo de Licenciamento de Tecnologia e Quitação Geral.” O documento garante desconto de R$ 18,50 por hectare de soja Intacta plantado nas próximas quatro safras.

Quem decidir continuar questionando na Justiça os royalties da RR1 deve assinar o “Acordo de Licenciamento de Tecnologia” para comprar a Intacta. Nesse caso, sem o desconto, paga-se o valor integral dos royalties (R$ 115 por hectare).

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