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Agricultores paranaenses cultivaram 3,6 milhões de hectares neste inverno. Lavouras de milho e soja safrinha (foto) no Sudoeste abrem espaço para a safra de verão | Ruderson Ricardo/gazeta Do Povo
Agricultores paranaenses cultivaram 3,6 milhões de hectares neste inverno. Lavouras de milho e soja safrinha (foto) no Sudoeste abrem espaço para a safra de verão| Foto: Ruderson Ricardo/gazeta Do Povo

Se o clima colaborar, a safra de inverno no Paraná será tão volumosa quanto à da soja no verão: 14,5 milhões de toneladas, conforme estimativas oficiais. O trabalho de retirada dos grãos das lavouras começou pelo feijão e pela soja, agora segue para o milho. A fartura no campo, porém, vem acompanhada de pressão sobre os preços.

O trigo lidera o aumento da colheita de inverno e entra na reta final de plantio com expectativa de render recordes 4 milhões de toneladas. O cereal ainda está com preços estabilizados, acima de R$ 40 por saca. O milho, por outro lado, acumula desvalorização de 5% no mês, sendo negociado a pouco mais de R$ 21 por saca atualmente. Com o avanço da colheita estadual, produtividades acima do esperado e a expectativa de uma produção de mais de 370 milhões de toneladas nos Estados Unidos, a tendência é de queda para as principais culturas do frio daqui pra frente.

No caso do trigo, analistas chegam a cogitar que as cotações vão recuar para baixo do mínimo se a produção nacional realmente for de cerca de 7 milhões de toneladas. O cereal do pão ainda corre risco de liquidez. As vendas estão travadas. De acordo com levantamento da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), somente 2% da produção de trigo esperada para este ano foram negociados.

Além disso, a indústria se abasteceu de produto importado. Quem apostou na cultura esperando lucro pode ter de conviver com preços abaixo de R$ 600 por tonelada, avaliam os especialistas. “Não há nada que nos diga que as cotações possam se recuperar. O produtor tem interesse em vender [o restante da safra passada], mas a indústria está fora [dos negócios]. O mercado e os moinhos estão na defensiva”, resume o analista da Safras & Mercado, Élcio Bento. “Se essa safra brasileira – de quase 7 milhões de toneladas – se confirmar, será necessária a intervenção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para garantir o valor mínimo”, acrescenta o analista de mercado da AF News, Gabriel Ferreira.

Para poder escolher o melhor momento de venda, o produto Luiz Renato Barros Correia, de Ponta Grossa, tem um armazém próprio para estocar a produção. “Com isso, consigo vender melhor e compensar as possíveis perdas”. Há sete anos ele aposta no trigo, mas revela que a cultura, em seu caso, serve apenas para não inviabilizar as finanças da fazenda. “Para baixar o custo fixo temos que investir em uma segunda cultura. Atualmente o trigo é a melhor opção”, explica.

O triticultor Modesto Felix Daga, de Cascavel, é otimista. “É uma tendência de queda passageira, que vai coincidir com a hora que colhermos. O país precisa importar, porque produzimos pouco mais de 50% do nosso consumo. A redução não deixa de ser uma preocupação, mas só vai acontecer se tiver uma safra realmente grande”, prevê. A Conab estima uma demanda de 12 milhões de toneladas de trigo em 2014/15.

Isenção da TEC ameaça nova quedano trigo

A isenção da Tarifa Externa Comum (TEC), requerida principalmente pela indústria nordestina, pode causar nova pressão sobre os preços do trigo no Brasil. A Região Sul luta para evitá-la. A decisão deve ser tomada ainda este mês pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), que se reunirá para discutir o assunto, ainda sem data definida. Mesmo com as perspectivas ruins das cotações do cereal no futuro, o governo brasileiro manteve o preço mínimo da tonelada do trigo em R$ 557,50.

Para escoar o restante da última safra – 800 mil toneladas -- e tentar ganhar competitividade, os produtores do Rio Grande do Sul pleiteiam baixa de 8% para 2% na cobrança de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na venda interestadual do produto, assim como é cobrado no Paraná. A proposta prevê redução até o fim de agosto, mas ainda não foi aprovada.

Importação viável

A desvalorização acumulada do trigo na Bolsa de Chicago (CBOT), mais de 17% em um mês, também tem estimulado a aquisição de contratos futuros do produto, com entrega que coincide com a entrada da safra brasileira no mercado, a partir de setembro. A incerteza quanto as condições climáticas para a produção da safra norte-americana tem favorecido as baixas recentes em Chicago.

Até o momento, 509 mil toneladas referentes à próxima safra foram compradas nos Estados Unidos, conforme relatório do Departamento de Agricultura norte-americano (Usda). Apesar da distância, o país do Hemisfério Norte se tornou o maior fornecedor brasileiro de trigo. De junho de 2013 até agora, o Brasil importou dos americanos 4,2 milhões de toneladas do cereal. Antes disso, eram os argentinos que abasteciam a indústria nacional, mas o governo de Cristina Kirchnner passou a impor restrições à venda do produto para o Brasil, temendo escassez interna em seu país.

A importação dos Estados Unidos tem compensado mesmo com o retorno da Tarifa Externa Comum (TEC), imposto de 10% sobre o valor da compra. “Está mais barato do que comprar na Argentina. O trigo americano é melhor para a panificação”, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika. A diferença de preço entre a tonelada do produto dos dois países chega a US$ 40 nos portos do Nordeste e a US$ 30 dólares em Santos.

12 Milhões de toneladas É quanto o Brasil deve consumir de trigo nesta safra. Se a produção nacional for de cerca de 7 milhões de toneladas, país teria de buscar cerca de 5 milhões de toneladas no exterior, o menor volume dos últimos seis anos.

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