O Porto de Paranaguá corre contra tempo para cumprir as exportações planejadas em 2013. No ano em que o mundo conta mais do que nunca com o Brasil no fornecimento de soja e milho, os embarques evoluem a passos lentos. Até agora, o Porto de Paranaguá, conseguiu colocar dentro dos navios pouco mais de 500 mil toneladas de soja. Para atingir a meta de 8,4 milhões de toneladas da temporada atual, precisa aumentar em mais de três vezes o ritmo dos trabalhos no cais e embarcar mais 870 mil toneladas por mês a partir de agora. A maior movimentação observada neste trimestre foi em fevereiro, quando o porto conseguiu enviar ao mercado internacional 258,8 mil toneladas de soja, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
A lentidão não é problema exclusivo do Paraná e é atribuída ao clima, ao apetite dos estrangeiros pelo milho do Brasil, mas, principalmente, à infraestrutura de escoamento da produção, que “pede socorro” de Norte a Sul do país. No Paraná, o sistema Carga On-line, que programa a chegada de caminhões e suas cargas com os respectivos navios, evita os congestionamentos na BR-277. Mas, se considerados os volumes exportados em janeiro e fevereiro pelo porto, o déficit é de 60% em relação ao ano passado. “Tivemos 27 dias de chuva em 2013. Perdemos praticamente o mês de fevereiro inteiro”, explica o diretor de desenvolvimento empresarial da Appa, Lourenço Fregonese. Hoje, nenhum porto brasileiro consegue carregar em dias de chuva por falta de cobertura nos berços onde os navios ficam atracados.
Equipamentos com mais de 30 anos de uso também dificultam os trabalhos. Segundo Fregonese, as correias que levam os grãos até os navios têm operado a 900 toneladas/hora, embora sua capacidade seja 1,5 mil toneladas/hora – uma das mais baixas do país. O diretor confia no tempo para recuperar o atraso nos embarques. “Se não chover, até sexta-feira da semana que vem liquidamos tudo o que temos de milho [do inverno passado]”, diz.
A conta
Os problemas logísticos causam prejuízos para os produtores. “As tradings [empresas que compram e exportam os produtos] podem até assumir os custos dessa logística agora. Mas quem vai pagar a conta no final é o produtor rural”, afirma Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP.
Ele lembra que os preços internos da soja e do milho estão sustentados no câmbio. Mas observa que as vendas futuras [referentes à safra seguinte] mostram desaceleração. “Agora o mundo precisa da soja. Mas, assim que as safras da Argentina e dos Estados Unidos entrarem no mercado, os preços tendem a recuar ainda mais”, projeta.
SOBRECARGAMilho também é sinônimo de caos em Santos
A safra recorde de milho colhida no inverno de 2012 também gera caos e atrasa os embarques da colheita de verão no principal corredor de exportação de grão do Brasil. Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o Porto de Santos recebeu pelo menos 1,5 milhão de toneladas a mais do cereal, o que acabou estendendo a janela de embarques do produto para o início deste ano. “Se considerarmos que 40% desse volume extra chegou por rodovia e 60% por linha ferroviária, que é a proporção histórica para cada modal, são 15,4 mil carretas bitrem a mais na estrada”, calcula o diretor geral da entidade, Sérgio Mendes. Ele estima, no entanto, que o transporte por caminhões roubou um pouco das cargas. Isso porque houve um acidente na linha operada pela América Latina Logística (ALL) no início do ano e que interrompeu o fluxo até Santos por algumas semanas. Além disso, o porto também teve de paralisar os trabalhos de carregamento em dias chuvosos, lembra Mendes.
As exportações nacionais de milho atingiram recordes 22 milhões de toneladas na temporada 2011/12 – 13 milhões de toneladas a mais do que no ano anterior. O ganho de mercado do Brasil se deve à quebra na safra dos Estados Unidos – maiores produtores e exportadores do mundo. Para este ano, o governo prevê embarques de milho em 15 milhões de toneladas e os de soja em 36,7 milhões de toneladas. Os números mantêm o Brasil como líder no mercado exportador.