A China não só vai continuar comprando como vai aumentar as importações de commodities agrícolas. A fome do gigante asiático ainda vai demandar muito do mercado internacional, em especial dos países produtores de grãos, concentrados na América do Sul e América do Norte. As discussões do Agricultural Outlook Forum 2010, há duas semanas, nos Estados Unidos, mostraram que os chineses estão empenhados na chamada modernização da economia agrícola do país. Mas evidenciaram também que a produção interna, em volume e sanidade, ainda está longe de reduzir a dependência externa.
Atualmente a China fica com metade da soja exportada pelo Brasil. Quantidade que pode ser maior, a considerar o consumo chinês. Os produtores brasileiros podem e querem aumentar os embarques. Mas não vai ser fácil. Não são apenas os brasileiros que estão de olho nesse mercado. Os norte-americanos e os argentinos também estão na disputa, que fica ainda mais acirrada com a recuperação da safra de grãos no Hemisfério Sul e a produção cada vez maior de soja nos Estados Unidos, ultrapassando 90 milhões de toneladas. Será preciso, a qualquer preço, desovar o excedente, com quem tem dinheiro e demanda.
Os EUA devem anunciar, nos próximos dias, um pacote de medidas para estimular as exportações, com ameaça inclusive de aumentar os subsídios à produção. Eles querem dobrar os embarques, um objetivo quase impossível, mas que assusta. O Brasil também tem suas metas, mais modestas, é claro, mas que não chegam a assustar. São mais realistas e consideram um cenário cada vez mais competitivo e de recuperação da economia mundial, num período pós-crise.
Agora, não dá para descuidar. Que o país tem maiores condições de alavancar as exportações e conquistar uma fatia maior desse mercado, não restam dúvidas. Mas é importante respeitar, não subestimar, a capacidade dos Estados Unidos. Vale lembrar que nos cinco anos que antecederam a crise, as exportações do agronegócio deles cresceram quase 90%. Em suma, vivemos em outro momento da economia e dobrar as exportações é quase impossível. O histórico, porém, revela que por pouco eles já não realizaram essa façanha.