Uma pesquisa realizada entre consumidores nos Estados Unidos mostrou que 7% dos norte-americanos acreditam que o leite achocolatado seja produzido por vacas marrons. Isso significa que 16,4 milhões de adultos no país não sabem que se trata de um produto industrializado, feito com leite, chocolate e açúcar. O estudo é do Centro de Inovação dos Estados Unidos.
Embora o resultado tenha gerado comentários engraçados, ele preocupou profissionais das áreas de agricultura e nutrição. Segundo eles, os americanos são basicamente “analfabetos agrícolas”, que não sabem onde a comida é plantada, como chega às lojas ou mesmo, no caso do achocolatado, o que tem nele.
Desconhecimento histórico
Nos anos de 1990, uma pesquisa encomendada pelo Departamento de Agricultura dos EUA, o USDA, revelou que 1 em cada 5 adultos não sabia que hambúrgueres são feitos de carne. O levantamento também mostrou que os cidadãos do país não conheciam informações básicas sobre agricultura e pecuária, como o que comem os animais criados em fazendas.
“Estamos condicionados a pensar que, se você precisa de comida, você vai ao mercado. Nada em nosso sistema de ensino diz às crianças de onde vem o alimento”, disse Cecily Upton, cofundadora da FoodCorps, ONG que visa promover educação nutricional em escolas de ensino fundamental nos Estados Unidos.
Estudos têm demonstrado que as pessoas que vivem em comunidades agrícolas tendem a conhecer um pouco mais sobre a origem do seu alimento, assim como as pessoas com níveis mais altos de renda e escolaridade.
No entanto, em alguns grupos populacionais, a situação pode ser diferente. Outra pesquisa, realizada em 2011 em uma escola de ensino fundamental na Califórnia com alunos de nove a 12 anos, também deixou os pesquisadores estarrecidos. Mais da metade não sabia que picles são pepinos ou que cebolas são vegetais. Entre os entrevistados, 3 em cada 10 não faziam ideia de que queijo é feito de leite.
Segundo a escritora e historiadora Ann Vileisis essa ignorância pode ser explicada. No início do século 19, quando as pessoas deixaram o campo para viver nas cidades, elas pararam de participar da produção e processamento dos alimentos. Ainda segundo a historiadora, essa tendência foi exacerbada por inovações em transporte e fabricação, que possibilitaram a entrega de comida em diferentes formas, e em grandes distâncias. Com o tempo, a uniformidade, a higiene e a fidelidade à marca tornaram-se ideais modernos, com a ajuda de campanhas publicitárias. Com isso, os americanos deixaram de imaginar a origem dos cereais dentro das caixas no café da manhã.
Atualmente, eles experimentam alimentos como um produto industrial que não se parece muito com o animal ou planta original. “Em muito pouco tempo, a distância da fazenda para a cozinha cresceu de uma curta caminhada para uma viagem de quilômetros por trilhos e estradas”, afirma Ann Vileisis.
Organizações como a FoodCorps trabalham para levar educação alimentar e nutricional para as salas de aula de escolas do país. Além de ensinarem o valor nutricional dos alimentos, visando uma alimentação mais saudável, os especialistas querem que as crianças aprendam sobre a origem dos produtos que consomem. “Conhecimento é poder. Sem ele, não podemos tomar decisões conscientes”, disse Cecily Upton.