Os Estados Unidos correm o risco de aderir a um “racionamento” de soja pelo segundo ano consecutivo. Os limites ao consumo interno são dados pelos preços. Enquanto o Brasil aguarda a entrada de uma safra que acaba de ser plantada, o país do Hemisfério Norte atende a demanda internacional crescente, comprometendo quase todo o volume que pretendia exportar até agosto do ano que vem.
Desde que iniciaram as negociações com compradores estrangeiros, os norte-americanos já venderam 96% de todo o volume previsto. Agosto é o mês que encerra o ano comercial dos Estados Unidos.
Em quatro meses, foram vendidas 38,7 milhões de toneladas de soja, conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA (Usda), de um total estimado em 40,1 milhões de toneladas. Ou seja, restariam menos de 2 milhões de toneladas a para serem vendidas nos próximos oito meses. A safra foi de 88,77 milhões de toneladas.
De todo o volume comprometido, metade já foi entregue aos importadores, cerca de 20 milhões de toneladas. Nesta época do ano passado, o país havia vendido 83% do total previsto para a temporada e embarcado 60% do volume.
Se o ritmo de vendas continuar acelerado, os Estados Unidos precisarão poupar novamente a sua produção de soja, avaliam analistas. A América do Sul, que domina quase 60% das exportações globais, só deve começar a despejar com força a colheita da safra nova em março de 2014.
“Os chineses foram extremamente agressivos nas compras dos Estados Unidos para usar como hedge [proteção] a um eventual problema com a safra da América do Sul”, afirma Stefan Tomkiw, vice-presidente da The Jefferies Bache, de Nova York.
“Se a safra aí [na América do Sul] se desenvolver bem, sem maiores problemas climáticos, o mercado pode corrigir isso [o risco de “racionamento nos EUA].” Por outro lado, a América do Sul tem receio de a demanda esfriar no primeiro semestre de 2014, acrescenta.
Preços
O apetite externo pela soja norte-americana, somado ao fato de os estoques continuarem apertados no país, sustenta as cotações do produto negociadas na Bolsa de Chicago (CBOT), o que acaba influenciando a formação de preços da oleaginosa em todo o mundo.
“O produtor estava segurando soja e milho. A bolsa agora está buscando paridade com o físico para atrair o grão do produtor. O ‘preço alvo’ de muitos aqui é o US$ 13 a US$ 13,30 nos futuros de janeiro”, explica Pedro Dejneka, analista de mercado da PH Derivatos, de Chicago.
Preço do milho procura o fundo do poço
Enquanto a soja resiste a cair após a entrada da safra norte-americana e a expectativa de uma nova colheita recorde na América do Sul, o milho só perde valor. Pressionado pela retomada da produção nos Estados Unidos (o país é líder isolado nessa cultura), o cereal já acumula queda de 40% desde junho no mercado internacional.
No Brasil, não tem sido diferente. Em regiões de Mato Grosso, o preço da saca de 60 quilos vale 50% menos em relação aos US$ 9,90 por bushel (R$ 22,70) referentes ao primeiro contrato negociado na Bolsa de Chicago. Em Sorriso, o produto vale R$ 12, em média, conforme levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Etanol
As notícias sobre a redução do consumo de etanol misturado à gasolina também estão pesando contra o milho, lembra Steve Cachia, analista da Cerealpar. “Com uma demanda menor da indústria, os estoque dos Estados Unidos ficariam folgados. Não é lei ainda, mas essa especulação foi suficiente para impedir altas”, emenda.
Em seu último relatório, contudo, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (EUA) elevou em mais 1 milhão de toneladas sua estimativa de uso de milho para o combustível no país. Das 355 milhões de toneladas do produto colhidas neste ano, 125,7 milhões de toneladas serão transformadas em etanol. O aumento está relacionado à margem de lucro das usinas de milho do país, que está positivo com a redução do preço da matéria-prima. Além disso, o mercado de carros flex deve ganhar terreno no Hemisfério Norte.
“O preço tem que se mexer pra não desestimular demais o plantio da próxima safra. Por mais que os fundamentos sejam baixistas, terá um momento que esse mercado buscará o fundo do poço e depois voltará a reagir para não perder tanto espaço nos EUA. Talvez estejamos próximo disso”, afirma Cachia.