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Laranjas dos EUA estão perdendo espaço por causa da guerra comercial entre os norte-americanos e a China. | Valterci Santos/Arquivo Gazeta do Povo
Laranjas dos EUA estão perdendo espaço por causa da guerra comercial entre os norte-americanos e a China.| Foto: Valterci Santos/Arquivo Gazeta do Povo

A escalada das tensões no comércio global tem dado às barracas de frutas na China um sabor diferente (e internacional). A distribuidora de Cingapura Sunmoon Food, por exemplo, está enviando para a China, pela primeira vez em sua história, navios carregados com laranjas do Egito, kiwis da Itália e maçãs da Polônia. As mercadorias vão preencher a lacuna deixada quando os asiáticos passaram a tarifar frutas norte-americanas, como parte da guerra comercial travada pelos presidentes Xi Jinping e Donald Trump.

Com um faturamento de US$ 45 milhões, a Sunmoon é uma “anã” comparada a gigantes como a Fresh Del Monte, que obteve receita de US$ 4,1 bilhões no último ano.

Entretanto, os novos negócios que estão sendo feitos na China mostram como o “toma lá, dá cá” entre as duas maiores economias do planeta está redefinindo o curso das trocas comerciais. A China importou US$ 6,2 bilhões em frutas secas, desidratadas e castanhas no último ano, quase dez vezes o valor de 2015.

“Como em qualquer guerra comercial ou disputa política, haverá sempre certo reequilíbrio entre os mercados”, afirma o SEO da Sunmoon, Gary Loh. “Companhias como a nossa podem se beneficiar disso e levar novos produtos em novos mercados.”

O Ministério do Comércio da China aplicou, em abril deste ano, 15% de tarifas de importação sobre frutas e castanhas vindas dos Estados Unidos. Em julho, os asiáticos acrescentaram mais 25% de imposto. As taxas eram uma retaliação contra as tarifas impostas pelos norte-americanos sobre US$ 50 bilhões em bens importados da China. Trump está tentando pressionar os asiáticos com a alegação de reduzir o déficit comercial entre os países.

Frutas e castanhas são uma parte relativamente pequena do quadro geral, respondendo por “apenas” US$ 488 milhões dos US$ 130 bilhões em exportações dos EUA para a China, segundo o governo norte-americano.

No entanto, o mercado chinês para esses produtos é um dos que crescem mais rápido no planeta, e os produtores dos Estados Unidos irão descobrir que é muito mais difícil chegar a relações potencialmente mais duradouras lá, afirma Richard Owen, vice-presidente da Produce Marketers Association, entidade que reúne várias empresas do segmento de produtos frescos e florais, e que tem sede em Washington, capital dos EUA.

A Sunmoon considera a China o grande centro para suas vendas, podendo alcançar 900 milhões de “bocas” por meio de parcerias locais.

A distribuidora tem sido beneficiada pela guerra comercial, com a vantagem de ter em sua rede de fornecedores 18 países e mais de 15 mil estabelecimentos, a maior parte na China e no Sudeste da Ásia. As ações da Sunmoon subiram 4,6% na Bolsa de Comércio de Cingapura recentemente, o maior ganho já registrado em um mês.

Quando a China aumentou as tarifas sobre bens dos EUA, a Sunmoon embarcou carregamentos de laranjas do Cairo – capital do Egito – para Xangai. A empresa também tem feito testes com frutas de Israel, Marrocos e Espanha no mercado chinês, com a possibilidade de incrementar as importações no próximo ano, caso as taxações persistam.

Enquanto produtores norte-americanos tendem a sofrer inicialmente com o bloqueio chinês, o aumento massivo na demanda com origem nos EUA ajudará a reduzir as perdas, avalia o Rabobank.

O CEO da Sunmoon enxerga a mesma dinâmica. A empresa aproveitou as tarifas sobre as cerejas americanas para comprar grandes lotes da fruta e enviar os carregamentos para o Vietnã. “Isso dará aos países do Sudeste asiático a chance de comprar novas variedades que antes os moradores não encontravam no mercado”, pontua Gary Loh.

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