O setor de máquinas agrícolas está preparado para voltar à realidade. Após o ano histórico de 2013, quando 83 mil máquinas foram comercializadas – o recorde anterior era 80,2 mil unidades, de 1976, na era da mecanização na agricultura – o comércio deste ano coloca o mercado em patamares semelhantes aos dos primeiros anos da década. De acordo com relatório da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 52,4 mil máquinas foram vendidas nos primeiros nove meses. A projeção do setor é alcançar 68 mil unidades até dezembro, próximo da média entre 2010 e 2012 (67,7 mil).
O ciclo atual registra queda significativa em comparação a 2013. De janeiro a setembro do ano passado, 63,9 mil máquinas foram comercializadas, 18% a mais em relação ao mesmo período de 2014. A maior redução está no segmento de colheitadeiras (22,8%). “2013 foi um ano fora da curva, quando os astros estavam alinhados. Este ano está sendo considerado estável”, diz Rodrigo Junqueira, diretor de vendas da John Deere Brasil. “Comparar com ano passado é covardia. Não pode se dizer que o setor está em crise, pois será um ótimo ano”, reforça Luiz Feijó, diretor comercial da New Holland no Brasil.
A diminuição dos negócios é atribuída a três fatores, a começar pela queda nos valores das commotidies agrícolas. Com a pressão da safra norte-americana de 106 milhões de toneladas de soja, as cotações internacionais despencaram mais de 20% nos últimos meses. A desvalorização mudou os planos no campo.
Só um trator é novo entre as máquinas que lotam o barracão de Walter Rubens Von Borstel, em Toledo (Oeste do Paraná), numa propriedade de 200 hectares. Se a soja não estivesse com as margens tão baixas, ele afirma que compraria uma colheitadeira nova. “Custa R$ 500 mil. Eu poderia vender uma das duas colheitadeiras que temos [de mais de dez anos ode uso], mas não quero me comprometer com essa conta”, relata. Cuidadoso, ainda mantém na propriedade máquinas de mais de 30 anos e só conclui um negócio com certeza de que vai conseguir pagar, apesar de considerar os juros aceitáveis.
Além dos preços mais baixos, os juros do PSI (Programa de Sustentação do Investimento) foram elevados de 3,5% para 4,5% ao ano. Apesar de ainda ser considerado um estímulo aos investimentos, a medida fez com que uma parcela dos agricultores optasse pela cautela. O fato de ser um ano com disputa eleitoral também influenciou na velocidade dos negócios envolvendo máquinas agrícolas.
“O ano eleitoral fez os juros (do PSI) voltaram às patamares normais. É natural que os empresários e os investidores se retraiam”, ressalta Marcelo Gonçalves, gestor da área marketing Brasil da Case.
Reta final
Apesar do ritmo menor dos negócios, o setor acredita que os três últimos meses do ano possam incrementar os caixas das empresas. Historicamente, outubro é um dos melhores meses do ano para a indústria de tratores e colheitadeiras. “Podemos ter uma busca maior nos próximos 45 dias, pois o pessoal sabe que agora é hora de aproveitar os juros baixos”, define Feijó.
Futuro incerto
Setor projeta 2015 “difícil”
Se o mercado de máquinas agrícolas esfriou em 2014, o pior ainda pode estar por vir. De uma forma geral, as marcas estão elaborando seus planejamentos para 2015 com a expectativa de um ano difícil.
“A safra americana gigante vai gerar aumento de estoque e, consequentemente, queda de preço [dos grãos]. O produtor vem de seis anos com margem muitas altas. Ele vai sentir e investir menos. Temos algumas análises internas de que a margem vai cair e será um ano mais difícil”, projeta Marcelo Gonçalves, gestor da área marketing Brasil da Case.
O diretor comercial da New Holland no Brasil, Luiz Feijó, compartilha das projeções do colega de mercado. Para ele, as indefinições das regras para financiamentos nos próximos seis meses, em função das eleições, podem causar mudanças nos cenários futuros.
“Estamos muito cautelosos no planejamento. Baseado no cenário de hoje, esperamos mais uma queda, desta vez abaixo da média. Mas nada que seja alarmante”, diz.
O relato dos agricultores ouvidos pela equipe da Expedição Safra atesta que, no ano de renda limitada impacta diretamente no mercado de máquinas, com redução de vendas e serviços. Potenciais clientes que ainda não renovaram as máquinas atuam de forma comedida. Muitos são parte do grupo que não pretende se arriscar agora, num momento de incertezas.
Paraná oferece apoio para colheitadeiras
Tidos como uma “linha de consumo” de máquinas agrícolas, os programas governamentais são uma das apostas do setor para manutenção das vendas. Recentemente, o governo do Paraná ampliou o programa Trator Solidário, implantado em outubro de 2007. Agora, os pequenos produtores também podem, de forma coletiva, adquirir colheitadeira. Os preços e a forma de financiamento serão os mesmo praticados para compra de tratores. De acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a economia pode chegar a 18% em relação aos preços de mercado.
A aquisição das colhedoras de grãos - potência mínima de 175 CV - deve ser feita em grupo de até quatro produtores, para que os valores das prestações sejam divididos.
A expectativa é comercializar 1 mil tratores e 200 colhedoras no estado. Até o momento, apenas equipamentos da marca New Holland participam do Trator Solidário.