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Para o analista, a crise internacional não altera esse quadro e a tendência é que o mercado de commodities agrícolas mantenha-se em alta por, pelo menos, mais 10 a 15 anos. "Apenas uma recessão muito forte na Ásia reverteria essa tendência", sentenciou. Mendonça de Barros alertou para a necessidade de reduzir a dependência da China, que, segundo ele, "não será sempre essa máquina de crescimento".

Ele considera que, apesar de não haver competição direta entre a produção de alimentos e a de energia, existe uma correlação de preços entre os dois mercados e que, por esse motivo, investir na produção de combustíveis renováveis avançados e de plásticos biodegradáveis é crucial para manter a competitividade do agronegócio brasileiro no mercado internacional. Por isso, resumiu o consultor da MB, "uma boa política agrícola nunca foi tão importante".

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A falta de políticas públicas claras e transparentes também foi citada como um dos principais entraves ao desenvolvimento do setor energético. "O Brasil passou de exportador a importador de gasolina e etanol. E vai continuar nesta condição por pelo menos mais três ou quatro anos", previu o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Segundo ele, a conjuntura atual reflete uma política equivocada de intervenções para manter, de forma artificial, o paradigma da energia barata. "O governo confunde regulação com intervenção", afirmou.

"O que aprendemos nos anos de glória do etanol é que sempre que a produção dobra o preço cai 20%", disse José Goldemberg, professor da Universidade de São Paulo (USP) especialista em energia. Ele avaliou que há espaço para que a produção brasileira cresça entre 5% e 10% ao ano, mas disse que isso não vai acontecer sem políticas públicas mais acertadas e direcionadas para incentivar um novo ciclo de investimentos no setor.

"Se o Brasil produzisse cinco vezes mais etanol do que hoje, seríamos um player tão importante quanto a Arábia Saudita é para o petróleo. Para isso, precisaríamos produzir 10% do etanol consumido no mundo, mas hoje ainda estamos em 2%. O governo precisa dar mais atenção ao setor. Deixar o etanol definhar, de novo, é algo que vai custar caríssimo para o Brasil", analisou Goldemberg.

Motor flex pode se tornar dispensável

Principal motor da expansão da indústria sucroalcooleria na última década, o carro flex pode se tornar um investimento inútil para o consumidor se não houver mudanças significativas no setor, alertam usineiros. "Se não houver alta da gasolina, alteração na Cide [tributo incidente sobre os combustíveis] e redução importante de custos, o consumo de álcool hidratado deve cair cada vez mais e vai desestimular a produção dos automóveis bicombustíveis", prevê o presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank.

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"Não vejo políticas de incentivo ao plantio de cana. Sem investimentos, até onde vai sobreviver o carro flex? O cenário lembra o dos anos 1990, quando o etanol simplesmente desapareceu", compara Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), as vendas de etanol hidratado pelas distribuidoras caíram 22% e as vendas de gasolina subiram 15% em relação ao primeiro semestre de 2010.

O setor culpa o preço fixo da gasolina – congelado pelo governo em R$ 1,05 por litro desde 2009 – como responsável pela perda de competitividade do etanol nas bombas. Por outro lado, o custo dos combustíveis no Brasil para o consumidor final ainda é maior do que nos países vizinhos. "Os empresários estão se arriscando. O custo do setor sucroalcooleiro cresceu 38% em cinco anos e, se essa alta for repassada para o consumidor, o hidratado será inviabilizado", argumenta Pires.

A jornalista viajou a convite da Mecânica de Comunicação.