As boas produtividades na largada da colheita e a revisão para cima nas estimativas de produção de milho safrinha acenderam um sinal de alerta para o mercado doméstico do cereal. No Paraná e em Mato Grosso, líderes na oferta nacional, o preço segue ladeira abaixo há três meses, e já atinge um patamar inferior ao da safra 2013/14. O quadro é amenizado por um maior volume de vendas antecipadas em relação à última temporada, que pode evitar prejuízos. O setor faz as contas e avalia que haverá uma necessidade menor de intervenção do governo para garantir a viabilidade da atividade.
A ampla oferta do grão no Brasil e nos Estados Unidos é o principal fator de pressão sobre as cotações. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou na semana passada uma safrinha 2% maior neste ano, chegando a 49,3 milhões de toneladas. Somadas às 30,8 milhões de toneladas produzidas no verão, os produtores brasileiros vão colocar no mercado 80,2 milhões de toneladas de milho.
“As perspectivas para a safrinha estão muito favoráveis e a entrada de uma produção recorde [para o ciclo de inverno] configura um fator de baixa”, aponta a analista de mercado da consultoria FCStone, Ana Luiza Lodi.
Além de abundância doméstica, o cereal brasileiro enfrenta a concorrência norte-americana. Com o plantio praticamente encerrado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) prevê retração de 14,8 milhões de toneladas na produção do cereal neste ano. Ainda assim, se não ocorrer nenhum problema climático, serão 346,2 milhões de toneladas do grão disponíveis .
Mesmo se o Brasil exportar mais, o alívio tende a ser apenas parcial, diz Ana Luiza. A Conab projeta o embarque de 21 milhões de toneladas, e no acumulado até maio o país negociou 5,18 milhões (t) do cereal. “A situação confortável de balanço de oferta e demanda deve permanecer, o que pode limitar uma reação dos preços”, complementa.
O quadro de desvalorização remete à safra 2013/14, quando houve necessidade de intervenção governamental por meio de leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro). Brasília monitora o tema, mas ainda sem ação definida, indica o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), André Nassar. “Acho que vamos ter uma safra no limite. Não acredito que vamos precisar intervir demais, mas há chance razoável de executar alguma ação”, aponta.
O fato de Mato Grosso -- que costuma ser o principal alvo das intervenções -- estar com mais de 60% da safra negociada, pode reduzir a necessidade de subsídios neste ano. O diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Nelson Piccoli, lembra que uma parcela expressiva dos negócios fixados oscilou na casa de R$ 15 e R$ 16 por saca (60 quilos), valores “que podem garantir uma rentabilidade aceitável”.
A Famato ainda não solicitou apoio a Brasília, e pretende aguardar o avanço da colheita para ter uma real noção do tamanho da safra. Piccoli aponta que 30% das lavouras foram plantadas fora da janela e com tecnologia baixa, com risco de quebra. “Vamos esperar para ver se há necessidade. Com uma produtividade acima de 100 sacas por hectare, vendendo a R$ 13, o produtor tem lucro, mesmo que pequeno”, diz. A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) avalia que haverá necessidade de intervenção, mas também aguarda o avanço da colheita para apresentar a demanda ao governo federal.
Planejamento garante R$ 24 por saca antes da colheita
Dirceu Portugal, especial para Gazeta do PovoOs produtores mais precavidos conseguiram garantir preço para o milho safrinha. A opção pela venda antecipada de parte da safra garantiu valores acima dos praticados atualmente. Antes de iniciar a colheita, os irmãos Cezar e Marcos Zanin, do município de Engenheiro Beltrão, na região Centro- Oeste do estado, comercializaram 30% da produção (6,5 mil sacas) por R$ 24 a saca.
A estratégia havia sido adotada na temporada passada, quando, na época da colheita, os preços também estavam baixos. “No ano passado, uma parte da produção foi vendida a R$ 21 a saca, e a outra deixamos estocada a espera de uma alta. Como isso não aconteceu e os preços estavam caindo demais, decidimos vender o restante da produção a R$ 20 a saca. Não foi um bom negócio, mas precisávamos pagar as contas”, justifica Marcos.
Por conta da previsão de chuva na região para os próximos dias, os Zanin anteciparam em uma semana a colheita dos 190 hectares dedicados ao cereal. A média tem sido de 120 sacas (7,2 mil quilos) por hectare. “Se não fosse a estiagem de 32 dias no plantio, poderíamos superar a estimativa de 125 sacas/ha”, conta Marcos Zanin, justificando que a antecipação dos trabalhos foi para evitar descontos por qualidade na hora de entregar na cooperativa. “Decidimos colher antes, mesmo com 30% de umidade, para evitar que o milho brotasse ou de perder parte da lavoura com os ventos.”
Na safra 2013/14, os Zanin colheram 109 sacas por hectare com um custo de produção de 53 sacas. “Este ano a produtividade aumentou, mas o custo de produção ficou em 57 sacas e os preços continuam em queda. Nos últimos anos, plantar milho não tem sido muito rentável, mas o agricultor precisa para fazer a rotação de cultura”, desabafa Marcos.
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