Indústrias brasileiras consumidoras de milho têm encontrado dificuldade de fechar novas compras do cereal, apesar da colheita em andamento no país, com produtores capitalizados segurando sua produção na expectativa de uma escalada de preços.

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"As indústrias estão tendo essa dificuldade. As empresas não têm falta de milho e não estão querendo pagar preços fora da realidade", aponta Ricardo Santin vice-presidente de aves da recém-criada Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Na outra ponta das negociações, os produtores de grãos -- capitalizados por três safras consecutivas com boa rentabilidade -- apostam que uma menor produção no Brasil este ano e uma perspectiva de plantio reduzido nos Estados Unidos garantirão preços melhores que os atuais.

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"A gente está segurando por causa disso, para ver como vai ser o desenvolvimento da 'safrinha'", disse o produtor Everton Cambruzzi, de Faxinal dos Guedes, na região Oeste de Santa Catarina.

A colheita de milho na propriedade da família dele está praticamente encerrada, mas a comercialização atinge apenas 30% do total. "Ano passado, como o preço estava melhor, conforme ia colhendo, ia vendendo", afirmou o agricultor, que conta estar sendo bastante assediado por indústrias de ração da região -- repleta de granjas de aves e suínos -- para liberar seus estoques.

Os preços do milho no mercado à vista no Oeste catarinense acumulam alta de 13% nos últimos 40 dias, sendo negociados atualmente a R$24,70 por saca (60 kg), segundo levantamentos do Cepea. No Paraná, o cereal subiu 32% desde setembro do ano passado, e fechou o mês de março com preço médio de R$23,29 por saca, apontam dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab).

O grande ponto de interrogação no mercado é o tamanho da safra e, por consequência, da oferta no país este ano. A colheita de verão deve ser 9% menor que a anterior, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), devido a uma menor área plantada e problemas climáticos em algumas regiões.

Além disso, o plantio da chamada "safrinha" de milho atrasou, principalmente em Mato Grosso, maior Estado produtor, devido a chuvas que atrapalharam a colheita da soja. Com isso, em algumas regiões, foi perdida a janela ideal de clima, ameaçando a produtividade do milho. Soma-se ainda a redução da área desta segunda safra de milho e um menor investimento em tecnologia.

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Após duas temporadas superando o volume de soja, a safra de milho no Brasil deverá atingir 75,18 milhões em 2013/14, ante o recorde de 81,5 milhões em 2012/13.

Os preços internacionais, que têm influência no Brasil, também apresentam uma tendência de alta, sustentados por perspectivas de uma redução na área plantada este ano nos Estados Unidos, maior exportador global da commodity, em favor da soja. O contrato dezembro do milho na bolsa de Chicago, referência para a nova safra norte-americana, acumula alta de 11% no ano.

Na avaliação dos analistas de mercado os negócios estão travados. No Paraná, 17% da produção de safrinha do ano passado ainda não foi comercializada. O volume equivale a 1,7 milhão de toneladas, conforme levantamento feito pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, válidos até o dia 30 de março. No caso do ciclo 2013/14, a colheita da primeira safra chega a 73%, mas apenas 27% da produção já foi negociada (1,4 milhão de toneladas).

"A safra verão está sendo comercializada, mas mais cadenciada que no ano anterior. O produtor está na expectativa da safra dos EUA e de olho na safrinha (do Brasil), se houver algum problema", avalia o analista Paulo Molinari, da consultoria Safras & Mercado. "E a comercialização da safrinha está bem mais lenta em relação ao ano passado."

Na avaliação de Santin, da ABPA, a competição com as exportações -- em meio a um mercado internacional mais bem abastecido -- é bem menor nesta temporada. "As revisões que estão sendo feitas (na safra brasileira) não são de uma grande folga. Mas é bem diferente do ano passado, quando tivemos que disputar em paridade no porto em quase todos os momentos", destaca o executivo, que acredita que em breve o mercado encontrará um equilíbrio, destravando as negociações.

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