Se em 2016 os preços do milho passaram de R$ 40 a saca, este ano o valor caiu, literalmente, para menos da metade. Embalados pelos resultados do ano passado, a área de plantio aumentou, a produção mundial cresceu e a oferta disparou. Resultado: “os estoques foram repostos e os preços recuaram”, afirma Marcelo Garrido, especialista do Departamento de Economia Rural do Paraná.
Agora, os produtores reclamam: estão pagando para trabalhar. “Só em insumos, diesel e mão de obra, o custo de produção está R$ 17,80 por saca. Com a operacionalização e a depreciação de máquinas e equipamentos usados desde preparo do solo, plantio, tratos culturais, colheita e transporte, fica R$ 21,10”, estima Valdir Fries, agricultor do Noroeste do Estado.
E ele vai além: “Isto sem computar o pró-labore da manutenção familiar. Ou seja, aos valores de hoje, quem paga empregado fica sem remuneração custear a sobrevivência da própria família”.
Uma consequência direta é a redução da área de produção de milho na safra de verão. A última estimativa da Conab é de que, no Paraná, o recuo seja de 30%. O Deral estimou 33% no fim de setembro, mas admite que o número pode aumentar.
“Na próxima semana teremos uma atualização. Em algumas regiões, por conta da seca que passamos, pode ocorrer que os produtores não tenham conseguido plantar a área estimada. Alguns técnicos de campo já comentaram que alguns agricultores talvez nem optem pelo plantio”, emenda Garrido.
‘Não vale a pena’
É o caso de Valmir Schkalei, de Marechal Cândido Rondon, no Oeste paranaense. “Em 10 anos, é a primeira vez que não planto milho de verão. Sempre fazia a rotação com a soja em 33% da minha área total. Agora desisti por conta do preço”. Nesta safra, seu investimento será 100% no cultivo da soja.
No Oeste do Paraná, aliás, a situação é crítica, segundo especialistas. “Só plantou milho quem precisa para o gado leiteiro e para suínos. Acho que de toda área, estimo em 5% a 8% a área de plantio de milho nessa primeira safra. Ano passado, era 15%, aproximadamente”, afirma Luiz Pedro, engenheiro agrônomo e consultor agrícola da região.
No Centro Sul paranaense, o presidente do Sindicato Rural de Guarapuava, Rodolfo Luis Verneck, dá um panorama que não difere muito do Oeste: “Esse ano teve redução grande [de plantio], e como o clima estava muito seco, o milho só foi plantado em outubro (deveria ser em setembro). Certamente vai cair a produtividade”.
A opinião de Valdir Fries é parecida: “Além de toda redução de área de plantio do milho na primeira safra, teremos uma queda significativa da produtividade de milho segunda safra”.
2018 negro?
Os impactos dessa retração na atual safra ainda podem demorar alguns meses para serem sentidos. Enquanto os agricultores deixam o alerta, o analista do Deral tem opinião diferente.
“O que se pode prever é o mesmo que aconteceu em 2016, que devido a baixa produção de milho primeira safra 2015/16, o país não tinha estoque de milho para atender a demanda, e faltou milho no mercado já em junho”, diz Valdir Fries.
“O preço tem que melhorar porque estamos sujeitos ao pessoal não investir no milho safrinha. São capazes de plantar com menos adubo, semente de menor qualidade. Assim, vai cair a produção, faltar produto e, mesmo assim, sair caro”, alerta Valmir Schkalei, criticando ainda a falta de políticas de mercado para estabelecer um preço mínimo, evitando tantos altos e baixos
Já para Marcelo Garrido, “o preço do milho sempre foi mais sensível, mas de um modo geral é cedo para falar em produtividade e a princípio não teremos redução. O que podemos falar é em uma colheita mais concentrada e, se o clima continuar bom, como de uns 15 dias para cá, não vai atrapalhar a segunda safra”.
Em alguns meses, os números vão mostrar qual das duas opiniões está correta.
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