O novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, fez um discurso de posse em defesa da função social da terra, a justiça no campo e a necessidade de ampliar a reforma agrária. Citou a expressão latifúndio, entendendo que esse tipo de propriedade persiste no país e rebatendo afirmação contrária da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, dada à imprensa.
"Não basta derrubar as cercas do latifúndio. É necessário assegurar oportunidades aos que não têm acesso à terra respeitando sua função social. As conquistas são frutos das lutas dos movimentos sociais. A política é essencial para transformar a realidade", disse Patrus Ananias. Ao comentar sobre o direito de propriedade, o ministro afirmou que ele não é inquestionável. "Não se trata de negar o direito de propriedade, que é uma conquista. Mas o direito de propriedade não pode ser, em nosso tempo, incontrastável, inquestionável e que prevalece sobre os demais direitos e sobre o projeto de realização das possibilidades nacionais.
Ele foi várias vezes aplaudido por representantes dos movimentos presentes. Um dos coordenadores nacionais do MST presentes à posse, Alexandre Conceição defendeu Patrus e disse que o movimento apoia sua indicação. "Viemos prestigiar a posse do ministro Patrus. Estamos bastante otimista com sua indicação. Gostamos da defesa que ele fez da função social da terra."
Kátia Abreu disse em entrevista à Folha de S. Paulo que o Brasil não tem mais latifúndios e defende que as grandes áreas de grãos cumprem seu papel social ao manterem elevados índices de produtividade. Enfrentando forte resistência dos movimentos sociais e de seu próprio partido, o PMDB, ela assumiu o cargo segunda-feira pregando diálogo.
Apesar do gesto de conciliação, ela sinalizou que não se afastará de suas origens e declarou "eterno amor" ao agronegócio. Os principais líderes do PMDB no Congresso não foram à solenidade.
"Quero declarar meu eterno amor a essa categoria que ajudou a formar meu caráter, meus princípios", afirmou Kátia, em seu discurso. Mais tarde, completou: "Este ministério será o ministério do diálogo. Todos aqueles que quiserem produzir, não interessa o tamanho da terra, desde que tenha um palmo de chão, o ministério está pronto para apoiar em qualquer circunstância", disse, ao ser questionada sobre como vai lidar com os movimentos sociais.
Esse foi o tom do discurso feito por ela ao receber o cargo de Neri Geller: "Esse será o ministério dos produtores rurais, sem nenhuma espécie de divisão ou segregação, e das empresas. Será um ministério da produção, mas, acima de tudo, um ministério do diálogo."
Apesar de sua nomeação ter desagradado a seu partido, o PMDB -- que a considera da cota pessoal da presidente Dilma Rousseff --, Kátia agradeceu à sigla em seu discurso. Citou o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ambos estavam ausentes.
Na contramão da política adotada no governo Lula, de promover a concentração do setor de carnes criando campeões nacionais como a JBS e Marfrig, Kátia Abreu pretende abrir o mercado nacional para novos frigoríficos. "Não sei se é o oposto (do governo Lula). Precisamos dar oportunidade para que mais frigoríficos possam exportar, sem enfraquecer ou desmerecer nenhum deles."
Sobre reforma agrária, a presidente licenciada da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) disse que essa questão não é tema de seu ministério, e sim do Desenvolvimento Agrário.
Em seu discurso, Kátia citou "gargalos", como as dificuldades do setor sucroalcooleiros, a necessidade de ampliar a cobertura do seguro rural e de investir em infraestrutura em hidrovias e ferrovias.
Listou como desafio determinado por Dilma a meta de dobrar a classe média rural em quatro anos. Kátia, que em 2010 recebeu do Greenpeace o "Motosserra de Ouro", elogiou a condução do Ministério do Meio Ambiente pela ministra Izabella Teixeira, que estava presente. Kátia disse que ela "harmonizou" a pasta e afirmou que o país avançou rumo a "uma produção cada vez mais sustentável".
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